O delegado José Antônio Dornelles de Oliveira, atual superintendente da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, encarou com certa surpresa o anúncio de que será substituído, mas está conformado. Com 40 anos de atividade policial – começou como agente, em 1981 – tem tempo de sobra para se aposentar. Sabe que os cargos de chefia também estão ao sabor dos humores de Brasília.
A troca não atinge apenas Dornelles. Desde abril, o novo diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, trocou 14 chefias regionais (incluindo aí o Distrito Federal). As mudanças começaram quando assumiu, junto com o ministro da Justiça, Anderson Torres (um policial federal que há anos trocou a rotina de investigações pela atuação como assessor de políticos).
As entidades de classe da polícia reclamam do excesso de trocas durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro, mas sabem que isso não acontece só na PF. Dança de cadeiras é uma constante no governo.
Nos corredores do prédio escuro da Avenida Ipiranga, sede regional da PF em Porto Alegre, há estranhamento com a substituição de Dornelles, porque ele deixará a chefia justo quando a superintendência do Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de operações, o chamado Índice de Produtividade Operacional (IPO). Está na frente das outras 26 unidades da federação. É um cálculo que compara as atividades profissionais com o tamanho do efetivo funcional, leva em conta fatores geográficos e, também, atividades administrativas.
A unidade de Porto Alegre, por exemplo, foi a que realizou o maior número de operações especiais em 2020, com 39 investigações de impacto (não rotineiras) deflagradas. A PF no Rio Grande do Sul também foi destaque no índice Esforço Operacional (princípio da eficiência) e no indicador Vítimas Resgatadas (situações de trabalho escravo ou abuso sexual são as mais comuns).
Passada a primeira surpresa, a tendência é que a boa produtividade continue. Afinal, o delegado que será novo chefe, Aldronei Pacheco Rodrigues, é um dos homens-chave de Dornelles na estrutura regional, como integrante da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiro. Além disso, o segundo em comando será outro parceiro de Dornelles, o delegado Alessandro Lopes, que chefiada o Combate ao Crime Organizado. O desafio de todos será manter a boa performance atual.