O Rio Grande do Sul ocupa um preocupante terceiro lugar em tráfico de crianças e adolescentes, no ranking de casos notificados ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. O levantamento abrange nove anos de investigações feitas por polícias de todo o país.
O levantamento leva em conta apenas episódios comprovados por inquéritos policiais. A imensa maioria, para não dizer todos, é de aliciamento para prostituição – o que inclui, acredite, crianças (menores de 12 anos), embora o usual sejam adolescentes (de 12 a 18 anos).
São 684 casos contabilizados no Brasil de 2011 a 2019 (os números de 2020 não estão fechados). Do total, 49 no Rio Grande do Sul. Parece lógico supor que o número real de episódios é muito maior, mas, ressalte-se, esse é o de casos investigados e comprovados.
As estatísticas foram divulgadas nesta semana pela agência de dados independente Fiquem Sabendo, especializada em Lei de Acesso à Informação (LAI).
O Estado que mais sofre com o problema é São Paulo, que teve um total de 202 vítimas no período. Seguido pelo Rio de Janeiro, com 75. Em conversa com policiais, eles consideram no mínimo curioso que o Rio Grande do Sul ocupe um terceiro lugar no ranking, quando se sabe que os problemas maiores de prostituição infanto-juvenil ocorrem nas regiões Norte e Nordeste. Basta uma visita nas principais cidades amazônicas para ver meninas se prostituindo em beiras de estrada e praças (fenômeno que também ocorre no Sul, mas em menor proporção).
Duas são as hipóteses para esse destaque gaúcho no ranking. Uma é de que adolescentes aliciadas aqui sejam engajadas na prostituição em outras partes do país (o que explicaria o maior número de registros de tráfico ou desaparecimento de adolescentes no Sul). A outra hipótese é que o RS tenha maior rigor estatístico ou mais registros, e que, em outros locais, esse tipo de crime esteja subnotificado. A PF possui, em território gaúcho, uma unidade (a Delegacia de Defesa Institucional, a Delinst) com equipes para atender esse tipo de delito.
O ranking do ministério também contabiliza 33 episódios de pessoas LGBT traficadas (nesse caso, adultos, também possivelmente para prostituição). Tanto para adolescentes como para adultos, o tráfico costuma ocorrer mediante promessas de uma vida mais fácil. Uma miragem, mas que continua a atrair muitos.