Algo falhou e muito na inteligência policial que permitiu que o miolo da cidade de Criciúma, a maior do sul de Santa Catarina, fosse sitiado por três dezenas de bandidos armados como se fossem para a guerra. Eles fizeram reféns, bloquearam a BR-101 com um caminhão incendiado, atacaram simultaneamente agências bancárias, cercaram os principais acessos ao município e aterrorizaram a comunidade com centenas de disparos.
Até metralhadora antiaérea calibre .50 teria sido usada no ataque: é possível ver, em imagens, munição traçante e a cadência característica dessa arma pesada. Um Vietnã catarinense, mal comparando.
Num vídeo gravado por moradores é possível ver um comboio com pelo menos 10 veículos de luxo tripulados pela quadrilha, se deslocando lentamente, como se patrulhasse as ruas – e não em fuga desesperada, como costuma ocorrer. Os papéis se inverteram, enfim. Tanto que os policiais foram surpreendidos e um deles ficou ferido, além de um vigilante bancário.
Sou contra a polícia? De maneira alguma. O policiamento, seja ele ostensivo ou investigativo, é uma das atividades que mais evoluiu no Brasil. O preparo das polícias brasileiras melhorou em proporções geométricas desde que comecei na profissão, mais de três décadas atrás. Os concursos começaram a exigir profissionais mais escolarizados e preparados, com foco maior na prevenção do que na repressão – mesmo por parte das Polícias Militares, que são as que combatem o crime nas ruas.
Um exemplo recente é o Rio Grande do Sul. De algum tempo para cá, escassearam no Estado os ataques aos moldes do Novo Cangaço, esse tipo de ação em que quadrilhas tomam os pontos principais de uma cidade, como ocorreu agora em Criciúma. Por duas razões: as polícias Militar e Civil, graças a muita informação acumulada, têm conseguido antecipar os passos dos bandidos.
Em algumas ocasiões, prendem o líder antes que ocorra o assalto. Em outras, fazem o cerco logo após o ataque, capturam ou matam os quadrilheiros.
Não foi o que se viu em Criciúma. Pela falta de informações sobre ação de quadrilheiros locais, pelo nível de preparo do bando e execução do plano, a desconfiança é que os bandidos que lá agiram sejam forasteiros.
Trazem a marca registrada de assaltos cometidos no Exterior e em diversos Estados brasileiros pela maior facção criminosa do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC). Essa organização fez ataques dessa magnitude em Ciudad del Este (Paraguai) e Montevidéu (Uruguai).
Agora é hora de rastrear onde andam os cabeças desses roubos milionários. Estariam veraneando no sul catarinense?