A Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) mataram 12 milicianos numa ação na região de Itaguaí, que possui um dos maiores portos do Rio de Janeiro. O banho de sangue teria começado quando os paramilitares reagiram à tentativa de prisão e feriram levemente um policial, com estilhaços de um tiro que pegou no colete à prova de balas.
Doze mortos não acontece a qualquer hora, mas pode-se dizer que os milicianos provaram do próprio veneno. Estavam preparados para a guerra. Com os paramilitares, foram apreendidos oito fuzis, metralhadoras, granadas e pistolas. Um dos mortos, líder do bando, é um ex-PM acusado de vários homicídios, expulso da corporação em 2008. As mortes não foram em confronto, mas execuções praticadas contra gente já rendida.
O que faziam em Itaguaí? Extorsão, a prática mais lucrativa das milícias. Investigações da Polícia Federal indicam que ninguém consegue importar ou exportar a partir daquele porto sem pagar propina a milicianos. Muamba que depois vai parar em pequenas lojas e camelôs, que também são extorquidos.
Herdeiras das táticas dos esquadrões da morte que fizeram escola na Baixada Fluminense, as milícias são formadas, na maioria, por ex-policiais e até por policiais da ativa. Surgiram no Rio há duas décadas com promessa de acabar com traficantes e foram bem recebidas pelas comunidades assoladas pelo tráfico. Estudos indicam que controlam hoje a maior parte das favelas metropolitanas do Rio e começam a avançar pelos morros contíguos às praias mundialmente famosas.
Duas metamorfoses aconteceram nos últimos anos. A primeira é que acabou o purismo das milícias. Além de extorquir moradores para que contratem seus serviços de internet, táxis, aplicativos e gás, elas também se associaram ao tráfico. Só enfrentam traficantes quando não conseguem cooptá-los.
A outra mudança é que ser policial ou ex-policial não é mais garantia de tranquilidade. A Polícia Civil fluminense tem usado duas unidades de elite para priorizar a neutralização de milícias: a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e a Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco).
Mais de 200 milicianos foram presos ou mortos por eles nos dois últimos anos. A intenção é clara: acabar com o ditado "lobo não come lobo".