A morte de cinco homens armados num confronto com a Brigada Militar (BM) em Caxias do Sul, na manhã desta quarta-feira, não surpreende. A serra gaúcha, dos vinhedos, da polenta e do queijo há muito virou reduto de bandidos da Região Metropolitana. Os sujeitos mortos agora seriam vinculados à facção Os Manos, do Vale do Sinos, e teriam tentado invadir boca de fumo dos Bala na Cara, facção porto-alegrense.
Grande parte não vem da Grande Porto Alegre, é gente recrutada na região. Quando as facções metropolitanas colocaram o olho (e a ambição) sobre o potencial milionário de vender drogas na Serra, decidiram aliciar os criminosos locais. Quem resiste é morto.
Isso ajuda a explicar por que Caxias do Sul tem média de um assassinato a cada três dias, como mostra o Contador da Violência, excelente mapa estatístico feito pelo jornal Pioneiro, do Grupo RBS. Mas há mais motivos.
Um deles é o índice de punição para os homicídios, longe do ideal. Dos 545 assassinatos ocorridos em Caxias desde 2016, apenas 211 foram julgados. Há sobrecarga de processos. A Vara do Júri tinha, no final de setembro, 300 casos de homicídios e tentativa para ir a plenário, mas há falta de juízes e servidores para realizar tantos júris.
—Um novo juizado deve ser criado e serão providenciados reforços. Temos priorizado o julgamento de réus presos, como é o correto — pondera a juíza-corregedora Carla Patrícia Boschetti Marcon.
Os 300 casos de mortes à espera de julgamento ajudam a explicar por que Caxias foi a cidade gaúcha com maior alta em homicídios no primeiro semestre (crescimento de 52% em relação ao mesmo período do ano passado). Com o confronto desta quarta-feira, somam-se mais cinco mortos nessa fatura — embora, neste caso, o confronto com policiais não gere sobrecarga no Judiciário.