As redes sociais fervilham de opiniões após a morte de três pessoas fuziladas por um rapaz durante uma banal discussão de trânsito em Porto Alegre. O tribunal da internet inclusive já colocou a culpa na pistola 9 mm que o homem portava. Sem ela, não haveria as mortes, lacram os contrários à facilitação da venda de armas.
É provável que, para casos passionais, essa interpretação faça mesmo sentido. Armas na mão de pessoas tresloucadas geram tragédias - basta ver nos EUA a profusão de assassinatos múltiplos cometidos por loucos. É possível que, sem arma, homicídios em sequência sejam mais difíceis.
Mas não dá para ser simplista. Por que o número de homicídios vem caindo há dois anos no Brasil, enquanto o número de armas vendidas aumenta? Esse dado dificulta a tese de que a venda legalizada de armas é que causa os assassinatos.
Não vou aqui ser irresponsável e dizer que maior número de revólveres e pistolas nas ruas ajuda a reduzir assassinatos (como alguns já se apressam em dizer). Só alerto para a possibilidade de que a relação entre um fenômeno e outro não seja tão direta quanto muitos estudiosos antibelicistas fazem supor. Os EUA são um dos países mais armados do mundo e a taxa de homicídios, lá, é bem menor do que a brasileira.
O que está comprovado, mesmo, é o risco de armas em mãos de criminosos ou de pessoas desequilibradas. Esses não ligam para as inúmeras exigências burocráticas feitas a quem deseja adquirir seu armamento legalmente. Apelam logo para arma obtida clandestinamente.
No caso específico do assassino que tirou a vida de três pessoas em Porto Alegre no domingo (26), o autor não tinha documento de posse ou porte de arma, não poderia estar com ela no carro. Não passou em psicotécnico, não enfrentou procedimentos legais. Não tinha condições psicológicas para andar armado, como agora todos sabemos.
O que penso: andar armado não significa ser desequilibrado. Muita gente reage contra criminosos, em legítima defesa, e se dá muito bem. Para ficar num exemplo, aconteceu dias atrás com um homem sequestrado, que matou dois de seus captores com sua pistola, em Pelotas. Era treinado e habilitado.
Outra ponderação: sem arma, policiais seriam executados aos magotes em vingança pelas prisões que efetuam. Não o são, em parte, porque seus desafetos sabem que eles estão armados. Em resumo, estou convencido de que o maior problema está nas pessoas e não na arma em si.