A casa própria é, disparado, o maior sonho de consumo de um brasileiro médio. É projeto para uma vida - e dos mais caros, bem mais que uma cerimônia de casamento ou um carro. É também um sonho que pode se tornar dos piores pesadelos, caso o comprador tope pela frente com uma empresa em dificuldades econômicas, desonesta ou as duas coisas juntas.
É o que aconteceu com pelo menos 720 gaúchos nos três mais recentes golpes registrados no setor imobiliário. O último impacto foi com os clientes da construtora Bella Vista, que prometia casas pré-fabricadas a serem entregues no Litoral. Eram residências atraentes para quem ganha pouco. Pelo menos 15 compradores não tiveram seus imóveis entregues, conforme apurado pela colega Ana Müller. Mas o número não para de crescer e deve ser bem maior.
O dono da construtora afirma que passa por dificuldades econômicas e que jamais teve a intenção de não cumprir o prometido.
Essa é a mesma alegação de uma outra empreiteira, a Báril, especializada em imóveis de luxo, que deixou de entregar 585 residências no Litoral Norte. É o maior caso de inadimplência dentre os recentes escândalos imobiliários gaúchos, como revelou o Grupo de Investigação da RBS (GDI). Essa construtora acumula pelo menos R$ 50 milhões em dívidas, parte com bancos, a maior parte com compradores dos imóveis.
Já um terceiro escândalo envolve 120 compradores lesados pela construtora Martins (que são sócios também de pelo menos outras quatro empresas de construção civil). Eram imóveis de baixo custo, a maioria na Grande Porto Alegre, como também foi relatado pelo GDI na reportagem Casas de Papel.
No caso da Báril a maioria dos clientes já tinha residência e perdeu o imóvel que seria para férias. Nos outros dois a situação é dramática: os prejudicados aplicaram todas as economias de uma vida. Difícil que venham a recuperar o dinheiro. Para prevenir, único caminho é: pesquise as ofertas, desconfie delas.