A iminente possibilidade de que em breve Luiz Inácio Lula da Silva seja transferido para outro Estado ou ganhe direito a prisão domiciliar retirará de Curitiba o mais notório preso da operação Lava-Jato. A capital paranaense concentrou holofotes ao manter aprisionados, além do ex-presidente petista, alguns dos mais ilustres empresários e políticos do país, como Marcelo Odebrecht (da empreiteira homônima), Antônio Palocci (PT), Eduardo Cunha (MDB) e José Dirceu (PT).
Desses, só Dirceu não tem perspectiva de deixar Curitiba. Cunha conseguiu transferência para o Rio e Palocci, para São Paulo, onde cumprirão pena próximo a familiares, como recomenda a Lei de Execuções Penais (LEP). Lula pode ser transferido para casa (prisão domiciliar) em setembro, após permanecer por mais de ano numa cela da Polícia Federal (PF), que reclamou do custo de R$ 4,8 milhões com seu "hóspede" mais famoso.
Excetuando o ex-ministro Dirceu, as celas de presídios e da PF paranaenses estão majoritariamente ocupadas pelo segundo escalão de envolvidos nos esquemas de corrupção desvendados pela Lava-Jato.
A operação prendeu 201 pessoas em cinco anos. De início, todos ficavam em celas de Curitiba. Hoje, dos 47 que continuam presos, apenas 22 estão na capital curitibana, média não muito diferente da inicial.
O que mudou é o quilate dos detidos. Saíram das celas os 11 empreiteiros do "Clube do Bilhão", como foram apelidados empresários que ocuparam celas em Curitiba (do quilate de um Otávio Azevedo, CEO da poderosa Andrade Gutierrez). Entrou no xadrez gente do segundo e terceiro escalões do esquema, como operadores de propina, como Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor de uma estatal paulista, ligado ao PSDB.
Ainda ocorrem prisões de empresários, como os dirigentes da cervejaria Petrópolis, presos semana passada. Mas são espasmos numa rotina formada majoritariamente pela prisão de doleiros - uma espécie de volta às origens, já que a Lava-Jato começou com a prisão de donos de casas de câmbio.
O ritmo também diminuiu. Foram sete fases (rodadas de prisões) da Lava-Jato em 2014, 14 fases em 2015, 16 fases em 2016, 10 fases em 2017, 10 fases em 2018 e apenas cinco fases em 2019. Parte disso se deve, claro, ao fato de o Supremo Tribunal Federal ter decidido que Curitiba concentraria apenas casos de corrupção envolvendo a Petrobras, o que restringiu o gigantismo inicial da operação.
Parte do glamour mantido pela operação nos seus quatro primeiros anos se esvaiu em 2019, após a divulgação, pela mídia, de conversas atribuídas ao então juiz Sergio Moro e a procuradores da República.
Interceptados por hackers, esses diálogos mostram que o magistrado e os integrantes do MPF teriam combinado por mensagens telefônicas estratégias para condenar suspeitos de corrupção, enquanto advogados não eram tratados com essa mesma deferência.
Os diálogos revelam que a Lava-Jato também se tornou atraente para cobrar cachês por palestras, de parte dos procuradores e do próprio juiz (embora Moro diga que a maior parte do dinheiro recebido foi doada). Mesmo que ainda não tenham sido repreendidos oficialmente por seus pares, pegou mal para o magistrado e os integrantes do MPF. E uma investigação por parte do Supremo Tribunal Federal parece iminente.
Tudo isso parece estar levando a um ocaso da "República de Curitiba", apelido dado à Lava-Jato por fãs e detratores.