A prisão de hackers que teriam vazado o conteúdo dos diálogos entre condutores da Operação Lava-Jato abriu uma caixinha com conteúdo ignorado. Como diz um piadista amigo meu, o grande desafio da PF, nesse caso, é descobrir o teor das conversas entre o Vermelho (hacker preso) e o Verde (Greenvald, jornalista que divulgou ao mundo as conversas entre o juiz Sergio Moro e os procuradores da República sediados em Curitiba). Descontração à parte, lemos as ordens de prisão emitidas pela Justiça Federal e a partir delas delineiam-se várias hipóteses. O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do DF, justificou as prisões pelos "fortes indícios de que os quatro investigados integram organização criminosa para a prática de crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas autoridades brasileiras".
O magistrado cita diversos juízes e delegados que tiveram, segundo perícia da PF, mensagens telefônicas interceptadas pelos hackers. Nenhum membro do Ministério Público é mencionado, mas o chefe da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, também teria sido hackeado, segundo depoimento do preso Walter Delgatti Neto, o hacker "Vermelho", à PF. Seriam 5 mil os alvos deles, durma-se com um barulho desses...
Conforme fontes da PF, Delgatti também declarou que cedeu as conversas para Glenn Greenvald, o jornalista do site The Intercept que pioneiramente vazou as conversas da Lava-Jato na mídia. Teria feito isso gratuitamente, movido pela desconfiança que tem em relação aos rumos da Operação Lava-Jato.
Como Delgatti é um golpista - tem antecedentes criminais diversos, invade telefones e está sendo investigado por estelionato - todas as afirmativas dele devem ser encaradas com reserva. Aqui, as principais hipóteses abertas com a investigação:
1 - Os hackers cederam gratuitamente as mensagens para o The Intercept - nesse caso, só eles cometeram crime. O site as divulgou e fez jornalismo. Atenção: já há gente dizendo que os hackers se dispõem a fazer delação premiada. Aí poderiam mudar essa versão, incriminando o veículo para quem vazaram as conversas.
2 - Os hackers receberam dinheiro para interceptar as conversas da Lava-Jato - nesse caso, quem pagou pode ser enquadrado em formação de quadrilha, entre outros crimes. Caso o dinheiro tenha vindo de um site jornalístico, terá ocorrido também desvio ético (o pagamento para que se cometa um crime).
3 - Os hackers grampearam os alvos para fazer extorsão - a pirataria de mensagens de 5 mil pessoas pode indicar isso. De quebra, os criminosos teriam cedido à mídia como subproduto parte do material obtido. O casal preso na ação movimentou, ao todo, mais de R$ 627 mil, embora tenha renda de R$ 3 mil. Mexiam com bitcoins, alegaram. Explicação não convenceu os federais, nem o juiz, que anotou movimentação suspeita de R$ 424 mil na conta de um dos hackers em apenas dois meses (de abril a junho deste ano).
4 - Os hackers não fizeram nada disso - teria tudo sido uma armação das autoridades para tentar encobrir os pecados do ministro e ex-juiz Sergio Moro.
Qualquer resposta depende do rumo das investigações. O jornalista Glenn Greenvald mantém a postura de não revelar sua fonte e a PF tem o desafio de provar que os fornecedores da informação são os hackers presos agora. O ministro Sergio Moro mantém a postura de não reconhecer como autênticos os diálogos divulgados pelo The Intercept e há quem diga que a PF tudo fará para provar que são falsos.
Como tudo no Brasil atual, a questão é encarada pelas lentes pouco confiáveis da ideologia. A menos que surjam provas técnicas confiáveis, o cenário continuará nebuloso.