De plantão no sábado (27), atendi um telefonema. Uma senhora pedia ajuda, a conselho dos filhos. Ela contatou, num site de encontros, um sujeito que se diz morador do Canadá. O papo foi tão entrosado que a mulher se apaixonou. Trocaram juras de amor e promessas de encontro. Ele informou que trabalha num navio e, quando atracasse no Rio, pegaria um avião para vê-la em Porto Alegre.
— Mas aí o navio dele sofreu um incêndio, até morreram pessoas. Ele conseguiu mandar a bagagem dele para o Brasil, mas ela está retida na Alfândega. Tem joias dentro — informou a senhora.
De imediato perguntei se o suposto apaixonado tinha sugerido a ela que pagasse algo para resgatar a bagagem. Sim, informou a senhora. Por R$ 1,7 mil, depositados na conta de um banco que ele informou, a bagagem seria enviada a ela em Porto Alegre, com joias e tudo o mais.
—Não pague nada e me mande fotos e cópias das mensagens — aconselhei.
Ela mandou. O sujeito parece um galã de Hollywood, tanto nas fotos de blazer quanto nas com os filhos adolescentes. Escreve num português arrevesado, como se realmente fosse estrangeiro. Insiste no depósito em dinheiro no banco... Faltavam detalhes de que era um golpe, aí mergulhei na pesquisa.
O tal documento da Alfândega brasileira incluía a palavra Brazil (com z) e director (com c, como em Portugal). Ressaltei para a senhora que o papel era uma nítida falsificação, não era algo oficial do governo brasileiro. Faltava só um passo.
Peguei as fotos do sujeito e coloquei no Google, para uma pesquisa reversa (detectar a origem da imagem). Bingo. As fotos foram furtadas de um advogado italiano por golpistas internacionais. Ele denunciou isso ao mundo. E as fotografias foram parar no site de relacionamento, com nome falso, como se fossem de um "latin lover" canadense.
A senhora chorou ao saber. Eu lamentei por ela. Fica a dica: cuidado com romances repentinos e cibernéticos. A internet está cheia de lobos em pele de cordeiro.