A decisão tomada pelo governo paulista de transferir para penitenciárias federais de segurança máxima 22 integrantes da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC, a maior facção criminosa do país) embute uma mudança de postura. Após décadas de negociações, parece que as autoridades - não só em São Paulo, mas em várias partes do país - decidiram impor tolerância zero ao crime organizado. Nas novas dependências, em tese, Marco Camacho (o Marcola) e seus parceiros do "Partido do Crime" (o apelido do PCC entre seus filiados) terão imensas dificuldades de comunicação.
A esperança das autoridades é de que, sem celulares e com dificuldades de passar até bilhetes para fora dos presídios, as facções enfraqueçam. A gota da água que determinou a remoção da cúpula do PCC foi a apreensão de bilhetes e também o rastreamento de celulares que mostraram planos da facção de contratar mercenários para resgatar Marcola e, também, para matar um promotor que ajudou a colocar todas as lideranças desse grupo na cadeia.
As autoridades podem estar corretas ao endurecer o jogo, mas isso embute riscos. Em 2001 as prisões onde o PCC estava estabelecido (São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e outros) foram literalmente incendiadas, após a transferência de Marcola para o Rio Grande do Sul (ele ficou um tempo na Penitenciária Modulada de Ijuí). Cabeças foram cortadas, país afora. Em 2006, o isolamento de Marcola e outros líderes criminosos no Regime Disciplinar Diferenciado, sem visitas e sem qualquer comunicação, gerou três ondas de atentados em São Paulo, com ataques a 300 prefeituras, câmeras de vereadores, ambulâncias, bancos e, sobretudo, postos policiais. Mais de 500 pessoas foram assassinadas em dias no embate entre agentes da segurança pública e bandidos, sendo que cerca de 100 agentes da lei (policiais e guardas municipais) perderam a vida em atentados e confrontos.
Em janeiro, o Ceará foi sacudido por mais de 200 ataques a prédios públicos e veículos, praticados por facções rivais, que se uniram após as autoridades estaduais determinarem a transferência de seus líderes. Os atentados foram praticados pelo paulista PCC, pelo fluminense Comando Vermelho (CV), pelo cearense Guardiões do Estado (GDE) e pelo amazonense Família do Norte (FDN), todos atuantes em território cearense. No Rio Grande do Sul, por outro lado, a remoção de líderes de facções até que deu certo. O número de homicídios, a maioria relacionados a gangues, despencou.
Ao que parece, uma nova onda de rigorismo pauta a relação dos governantes recém-eleitos com as facções criminais. Vai dar certo? Ainda é cedo para dizer quem será vencedor nessa queda de braço.