Esta semana completam-se três meses do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) no Rio de Janeiro e quatro meses de intervenção das Forças Armadas na segurança pública daquele Estado. Apesar das boas intenções, é preciso reconhecer dois fatos: a morte da parlamentar continua impune - sequer há indiciados no caso - e os militares patinam no exercício diário da sua nova função, o gerenciamento da máquina policial e o patrulhamento das ruas fluminenses.
Sobre a morte de Marielle há avanços importantes, como a delação de um ex-PM que implica um vereador num plano para assassiná-la, por desavenças em relação a projetos imobiliários. O problema são provas. Alguns dos que estariam envolvidos com o mandante do crime (segundo a delação) foram assassinados no decurso desses três meses. É até possível que a Polícia Civil, numa surpresa, anuncie logo alguma grande novidade sobre esse crime que abalou o Rio...mas é pouco provável.
O assassinato de Marielle teve o efeito de uma bofetada no rosto dos interventores militares na Segurança Pública do Rio. Há quem suspeite ter sido planejado como provocação de policiais-bandidos contra a intervenção. Se foi isso, deu certo. As Forças Armadas, novas gestoras das polícias fluminenses, ficaram com esse abacaxi para descascar e o ônus do desgaste decorrente da demora.
A intervenção fracassou? Se pensada com objetivo de longo prazo, é cedo para dizer. A ideia dos militares (conversei com alguns) é mudar o conceito de policiamento no Rio e expurgar as "maçãs podres" do cesto, os maus policiais. Aquele retratado na série de filmes Tropa de Elite. O problema é que esse expurgo ainda não ocorreu.
A curto prazo, a sensação é de fracasso. Basta recordar esses quatro fatos:
- Foi anunciado pela União aporte de R$ 1,2 bilhão para as Forças Armadas investirem na segurança pública do Rio. Até agora, esse dinheiro não virou realidade, pelos trâmites burocráticos, incluindo editais de licitação para vários projetos e editais de concursos. Os militares reclamam.
- Desde fevereiro as Forças Armadas realizaram 10 grandes operações. Nenhuma teve resultados vistosos, embora agradem à população. A última, na quinta-feira passada, usou 4,6 mil militares e resultou na apreensão de três pistolas e 13 suspeitos detidos. Pouco, diante do uso de milhares de efetivos. Há seguido suspeita de vazamento de informação sobre as ações.
- A maior ação policial desde o início da intervenção aconteceu em 7 de abril: foi a prisão de 159 pessoas acusadas de envolvimento com uma milícia formada, basicamente, por policiais e ex-policiais envolvidos em crimes. Dezenas de armas foram apreendidas com alguns deles. Pois 137 dos presos foram soltos pela Justiça, que entendeu não existirem provas que justifiquem mantê-los presos.
- Os tiroteios continuam diários (apesar da intervenção) e ganharam a orla carioca, a mais badalada do Brasil. A guerra de facções se intensificou. E sete criminosos apareceram mortos com tiros na cabeça, após ação policial. Há suspeita de que tenham sido executados. Uma velha e sangrenta tradição no Rio, que os militares não conseguiram mudar.
Tudo isso deixa claro que a intervenção militar, apesar do apoio popular, está longe de ser uma solução mágica. Sequer respostas têm a oferecer, até agora.