Ninguém conhecia José Paulo Vieira de Mello pelo nome. O apelido era Paulo Seco, por sua magreza. Mecânico em Passo Fundo e tradicionalista, entortou na vida ao se relacionar com Nei Machado, o Pitoco, patrão de CTG e, nas horas vagas, traficante. Os dois vendiam carros usados no Planalto Médio, norte gaúcho.
Isso foi nos anos 1990, quando Machado começou a usar seus conhecimentos para contrabandear cocaína e maconha desde o Paraguai. A droga era lançada de avião em lavouras do Rio Grande do Sul. Foi numa dessas que Pitoco acabou preso pela primeira vez. Foram várias prisões, seguidas de libertações condicionais.
Leia mais:
Traficante ligado a Beira-Mar é preso após oferecer R$ 1 milhão para PMs
Polícia uruguaia captura traficante gaúcho procurado pela Interpol
Paulo Seco escapou e se tornou o braço de Pitoco no vaivém com os paraguaios. Virou matuto, apelido pelo qual são conhecidos os atravessadores da droga: não plantam, não vendem, apenas carregam a mercadoria de um país ao outro.
De peão, Paulo Seco virou patrão em 2001, quando Pitoco sofreu a grande derrota de sua vida: foi preso nas selvas da Colômbia, num acampamento da guerrilha Farc, junto com o maior traficante brasileiro, o carioca Fernandinho Beira-Mar. Os dois vendiam armas aos guerrilheiros e, em troca, traziam cocaína para o Brasil, em aviões.
A prisão de Pitoco e Fernandinho na Colômbia deixou Paulo Seco como líder. Desde então, ele foi condenado três vezes: em 2007, por tráfico (quatro anos de reclusão), em 2007 de novo, por associação para o tráfico (três anos de reclusão) e em 2014, por tráfico (seis anos de reclusão). A sua ligação em Porto Alegre era com um conhecido traficante, Juraci da Silva, o Jura do Campo da Tuca (hoje preso).
Estava refugiado no Uruguai quando foi preso por policiais daquele país, em julho de 2010. No mesmo mês foi transferido para o Brasil, onde cumpriu pena até abril de 2016, quando ganhou liberdade condicional. Estava solto. Até esta quinta-feira, quando topou com um grupo de PMs honestos, que recusaram R$ 1 milhão de suborno - mesmo com seus salários parcelados. Um dia a casa cai, inclusive a de traficantes sortudos.