Eu e colegas de Zero Hora bem que gostaríamos de estar errados na manchete do jornal semana passada: "Estado pode terminar 2016 com recorde em latrocínios". Mas a realidade insiste em confirmar esse alarme. Na noite de domingo, duas vidas foram exterminadas por ladrões em Porto Alegre. Uma médica foi morta no bairro Navegantes por criminosos que levaram seu carro. No outro lado da cidade, no Cristal, um porteiro foi morto por assaltantes.
Não recordo de episódios recentes de dois latrocínios numa mesma noite na Capital. Preocupa, atemoriza, desanima tomar conhecimento desses casos. Sair às ruas, à noite, virou aventura, sem garantia de retorno. Não é justo que os gaúchos estejam a um passo de acumular o maior número de mortos em assaltos na história.
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Justiça, claro, que não passa pela cabeça dos ladrões. O que interessa a eles é levar logo o objeto desejado. Como grande parte deles é movida pela fissura da carência da droga - o crack de cada dia - basta um gesto brusco do assaltado para a sentença de morte ser dada pelo criminoso.
Difícil impor medo aos criminosos, enquanto a pena para o roubo incluir benefício de ir para um albergue com apenas 1/6 da pena cumprida. Se for réu primário, nem fica em presídio fechado. De que adianta a pena para latrô ser alta, se a de roubo (de quatro a dez anos de prisão) permite que grande parte dos ladrões fique até menos de um ano atrás das grades do presídio, ganhando logo permissão para um semiaberto, de onde foge com facilidade? É uma piada de mau gosto. E, de roubo em roubo, muita tentativa acaba em latrocínio.
A crônica falta de efetivos policiais no Rio Grande do Sul também desmotiva, mas o governador Sartori acaba de anunciar providências nesse sentido, com autorização para cursos de PMs e policiais civis que em breve vão encorpar as fileiras da segurança pública. Outra medida que pode dar certo é a Operação Desmanche, contra venda de peças roubadas de veículos. Mas isso é longo prazo. No curto, caminhamos para um triste recorde de mortes em assaltos.