Maior força policial do RS, a Brigada Militar é também a mais exposta na linha de frente. É dos PMs a missão do combate diário a criminosos cada vez mais ousados e bem armados.
Numa outra faceta, cabe também à BM atuar ante protestos de cunho social, como os realizados por alunos e professores de escolas nas últimas semanas em Porto Alegre. Uma missão completamente diferente do ataque ao crime comum. Isso porque estudante não é bandido. Não usa arma. Jovens militantes não têm capacidade de reação ou agressividade que justifique, por parte do policial, jogá-los num Presídio Central, como se assaltantes fossem. E essa noção deve permear a doutrina de policiais, tanto os militares quanto os civis.
É por isso que considero um grande equívoco a detenção de estudantes durante a invasão da Secretaria da Fazenda, semana passada. Retirá-los de lá, ok. Enviar grande parte deles para o Presídio Central, jamais. Primeiro, porque não parece ter ocorrido depredação que justificasse atitude mais drástica por parte dos policiais. Segundo, porque "corrupção de menores" – crime pelo qual se justificou o envio ao presídio dos adultos que protestavam – é definição usual para os que exploram prostituição ou assaltantes que usam adolescentes de forma sistemática em suas quadrilhas. Pior ainda é o fato de terem remetido à prisão um jornalista que estava ali a trabalho, como mostram as gravações feitas por ele mesmo.
Os jovens que estavam naquele prédio agiram com o ímpeto natural dos protestos políticos. Pode-se questionar a invasão, mas eles não demoliram móveis e o edifício, como faziam os black blocs nas manifestações de 2013 – algo que poderia justificar ação mais drástica por parte dos policiais. Aliás, Zero Hora analisou os 86 inquéritos sobre depredações ocorridas nos atos políticos de três anos atrás. A imensa maioria dos indiciados jamais foi enviada à prisão – mesmo alguns que destruíram lojas e veículos. Por que na semana passada PMs e policiais civis decidiram que a punição aos protestos deveria ser o presídio, se a manifestação foi muito menos violenta que as registradas pelos manifestantes em 2013? Essa resposta a Secretaria da Segurança ainda deve à sociedade.