Dentre os piores pesadelos que um policial pode enfrentar está o de ser preso. Foi isso que o delegado Protógenes Queiróz quis evitar, ao fugir para a Suíça. Mas não custa explicar aos mais jovens quem é ele. Não se trata de mais um policial-bandido, daqueles que usam o cargo para se locupletar com dinheiro oriundo de ações criminosas.
Durante muito tempo, entre os Anos 90 e os 2000, ele foi exemplo de dedicação e vistoso cartão de visitas da Polícia Federal (PF). Muito por ter prendido figurões da política que encarnavam o modelito da corrupção, como Paulo Maluf.
Com um gosto por ternos escuros e óculos de sol para esconder as olheiras permanentes do excesso de trabalho, Protógenes parecia encarnar aqueles agentes românticos de filme noir. O erro de Protógenes parece ter sido acreditar que os fins justificam os meios. Com poucos agentes para vasculhar a vida de alvos poderosos – como o enrolado banqueiro Daniel Dantas – o delegado cometeu pecados que lhe custariam caro.
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Usou agentes emprestados (da Abin, que não poderiam aparecer no inquérito policial) para espionar. Usou gravações feitas por terceiros, alheios à Polícia Federal. Errou endereços em buscas e apreensões. Foi acusado de acelerar procedimentos e ignorar a prudência (e alguma ordens) recomendadas pelas chefias. Algemou colarinhos branco, como o próprio Dantas, quando eles não ofereciam resistência.
Foi com base nesses equívocos que Dantas, preso por Protógenes, saiu da prisão em dias e conseguiu, após alguns anos, anular os processos aos quais foi submetido. De caçador, Protógenes virou caça. Foi afastado do cargo e demitido da Polícia Federal – logo ele, modelo a policiais mais jovens. Sua popularidade era tanta que se elegeu deputado, mas caiu no esquecimento... e não conseguiu reeleição. Sem foro privilegiado, foi rapidamente condenado. Poderia cumprir a pena de serviços comunitários, mas não conseguiu aguentar a humilhação. Preferiu fugir e está na lista da Interpol.
Na Suíça, alega que é vítima de perseguição política por ter investigado políticos poderosos. Talvez um dia volte ao Brasil... só que desta vez é grande a chance que as algemas estejam colocadas nos seus pulsos e não dos seus notórios inimigos.