A rapidez com que a linha do BNDES se esgotou, em minutos, é uma das evidências de que a demanda de produtores gaúchos afetados pela catástrofe climática é superior à oferta. É justamente para mostrar que grande parte dos agricultores segue sem uma solução para o passivo — e pressionar para que venha o mais rapidamente possível — que um grupo se reúne nesta terça-feira (15), em Brasília, com três ministros e representantes de instituições financeiras.
A agenda, proposta pelos senadores Luis Carlos Heinze e Tereza Cristina, terá a participação de quatro representantes do Movimento SOS Agro RS. Um deles é a produtora Graziele de Camargo, que explica o objetivo:
— Esse encontro é de suma importância, acreditamos que se resolvam os entraves burocráticos e realmente se tenham os recursos necessários para que todos os produtores que realmente necessitam tenham acesso.
Os problemas que têm sido registrados em relação às ferramentas disponíveis serão pontuados (veja quadro). Graziele acrescenta que há agricultores que não conseguirão plantar se o cenário permanecer como está pela impossibilidade de ter acesso ao crédito para a formação da nova lavoura.
— Tem de ter agilidade, não tem mais tempo. Tem de fechar a safra 2023/2024 para ter a 2024/2025. Precisam entender a gravidade — ressalta o senador Heinze.
Ele argumenta que a eventual desistência de plantio "será ruim para produtor e para o Estado".
A linha aberta pelo BNDES na sexta-feira (11) é considerada essencial, porque é a única ferramenta disponível para quem tem financiamentos a juro livre — hoje, boa parte das linhas do Plano Safra. O primeiro pedido por crédito para capital de giro foi feito ainda em maio pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
A negociação se estendeu e o anúncio de que produtores poderiam buscar a linha com recursos do fundo social saiu em meio à Expointer. O problema é que há uma diferença gigantesca entre a estimativa da necessidade e o que foi liberado.
Bancos e cooperativas estimam um montante de R$ 19,5 bilhões, conforme informação repassada em reunião com integrantes do setor.
Na sexta, quando finalmente abriu, o crédito de R$ 412 milhões, destinado a 400 operações, não esquentou banco.
Os problemas
Conforme o Movimento SOS Agro, os problemas que os produtores têm enfrentado são:
- Na medida prevista pela MP 1.247, que prevê descontos percentuais: a confirmação da adesão do produtor à medida depende da avaliação de conselhos municipais e federais. O prazo para que isso seja feito é até 21 de novembro. O problema é que, enquanto a confirmação não sai, o agricultor não consegue buscar crédito para custeio, usado na compra de insumos para fazer a lavoura. Sem isso, não consegue fazer a safra de verão, que já começou a ser plantada no RS
- Linha do BNDES, com recursos do fundo social: a demanda é muito superior ao recurso liberado. Além disso, a exigência de garantias reais maiores do que a dívida, aponta Graziele de Camargo, é outro obstáculo. Para isso, precisa haver um melhor do fundo garantidor