Desde a origem, a Expointer, que começou como feira estadual e depois virou internacional, reflete nas pistas a realidade que se vê no campo. No ano em que o Rio Grande do Sul viveu a maior tragédia climática da sua história, esse espelho ficou ainda mais nítido. A começar pelo parque Assis Brasil, em Esteio, que ficou debaixo d’água por até 40 dias em algumas áreas. Com 90% dos 141 hectares alagados, o espaço era o retrato da destruição que se multiplicou por quase todos os municípios do Estado.
Com menos de 90 dias até a data marcada para o início da exposição, a tarefa de devolver a forma ao parque parecia improvável. A decisão de manter a feira de pé precisou ser tomada em meio ao rastro de destruição deixado pelas águas.
Entre a tristeza, o medo e a indefinição trazida pela catástrofe, prevaleceu o sentimento de que apesar de tudo era necessário recomeçar. A emoção prevaleceu sobre a razão talvez, para que se dissesse um sim à Expointer.
Tal qual a realidade de propriedades e municípios atingidos, no parque foi preciso arregaçar as mangas em meio ao caos para recomeçar, longe das condições ideais e com as feridas ainda abertas.
As histórias de dificuldades e a ânsia por uma brecha de normalidade se multiplicam entre as pessoas que ajudam a fazer a feira. Gente que precisou vencer não só as perdas materiais, mas também as humanas. E que encontrou no parque um lugar para honrar a memória das vidas de familiares, amigos e conhecidos levadas pelas águas.
A emoção do produtor que encontrou no espaço do pavilhão das agroindústrias familiares uma forma de homenagear a esposa e o sogro, vítimas da catástrofe, foi repetida na pista em que se celebraram as vacas campeãs de produção no tradicional banho de leite. As lágrimas do criador que levou o bicampeonato para casa eram a materialização de quem superou falta de energia, água, alimento para os animais e precisou jogar fora produto que não tinha como ser entregue.
Então, embora tenha espaço aberto e seja um ambiente para os negócios, o que por si só já é uma motivação, a 47ª Expointer não é uma feira sobre números. É uma exposição sobre ter um ponto de partida simbólico (e real) para o Rio Grande do Sul recomeçar.