A chegada do produtor Mauricio Buffon, 47 anos, à presidência da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) traz para a entidade a representatividade da região destacada como a nova fronteira agrícola do grão: o Matopiba. A sigla é uma referência aos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, para onde o cultivo avançou no país. A história do agricultor acompanha a trajetória dessa lavoura Brasil afora. Nascido em Ronda Alta, no norte gaúcho, migrou na década de 1980 para o Centro- Oeste, mais especificamente, para o Mato Grosso. Permaneceu lá até 2009, quando iniciou nova fase migratória com o objetivo de produzir no Tocantins.
Eleito para o triênio 2024/2027, Buffon toma posse no próximo dia 23, quando oficialmente sucederá o atual presidente, Antonio Galvan. No domingo, a partir das 6h, ele é um dos entrevistados do programa Campo e Lavoura, da Rádio Gaúcha.
Em entrevista à coluna, o escolhido falou sobre o caminho do grão, a atual safra e os desafios à frente da Aprosoja. Confira trechos abaixo.
No mapa da produção de soja do Brasil, como se situa, hoje, o Tocantins? Quais as condições da região?
Temos aqui hoje em torno de 1,5 milhão de hectares de lavoura de soja. Perante o Sul e o Centro-Oeste, (o cultivo) é mais novo, mas também está consolidado. Tem muitas lavouras de soja, muitos produtores aqui nessa região, e uma fronteira bem consolidada. Normalmente, as lavouras são implantadas em outubro e novembro. O Pará que é um pouquinho mais tarde, em dezembro. É um clima diferente, um solo diferente, um desafio diferente que encontramos aqui, mas também há solos muito férteis, propícios para a produção agrícola. Esses Estados que compõem o Arco Norte são uma fronteira ainda nova, mas com muitas oportunidades. Estou há 15 anos no Tocantins e já vejo que tem uma boa técnica, se vê muitos agricultores produzindo muito bem , com a cultura muito bem adaptada. As próprias variedades se adaptam muito fácil devido à pesquisa.
Como foi a questão climática na safra de soja atual?
Realmente, é uma safra um pouco menor do que em outros anos. Assim como no Mato Grosso, aqui é muito parecido o clima: teve lugares que choveu, outros que não. Isso variou em um raio muito pequeno, em cinco, 10 quilômetros. Houve essas variações climáticas devido ao fenômeno El Niño. Isso está tirando o sono do produtor, realmente é um desafio.
O que pesou mais? Foi o clima, o preço ou os dois tiveram participação igual nesse cenário desafiador?
Uma coisa leva a outra, né? O que pesa muito na balança em toda essa questão é que você vinha com um custo de produção alto. Porque o preço a gente não consegue comandar, mas vínhamos com um custo de produção alto devido à subida dos preços lá em 2021, 2022. Aí você vem com uma produção um pouco menor, e os preços, recuando. Se contarmos o Sul, vinha de dois anos com problema. Então, muitos produtores traziam já algum arresto de conta lá desses anos.
O senhor avalia que serão necessárias novas medidas, além da que o governo anunciou recentemente, de alongamento das parcelas de financiamento?
A resolução que saiu, por exemplo, aqui para o Arco Norte, não entrou soja nem milho, só a bovinocultura de corte. Estamos voltando a negociar para esses Estados também terem essa flexibilização e alongar as contas. Os juros agrícolas também subiram bastante.
Esse impacto climático e mercadológico na safra de 2024 pode afetar a área cultivada com soja no Brasil no próximo verão?
Com certeza, o produtor vai refazer muitas contas. Com a margem de lucro muito comprometida, serão feitas muitas contas. Algumas áreas podem migrar para outras culturas. Não acredito em grande quantidade, mas há um indício de uma freada, pelo menos para não expandir, e a cultura de soja, principalmente, diminuir um pouquinho. Isso, às vezes, é até salutar para o sistema poder equilibrar novamente e as coisas voltarem à normalidade.