Depois de uma sequência de safras marcadas pelo impacto da estiagem, o Rio Grande do Sul deve colher neste ano uma produção dentro da normalidade. E se a falta de chuva fez o Estado destoar dos resultados do país, neste ano a situação se inverte. O tempo seco promete encolher a produção em diferentes regiões do país. No território gaúcho, apesar de haver situações de estresse hídrico, o quadro não é generalizado como nos dois ciclos anteriores de verão.
Esse efeito sobre tamanho da safra também deve aparecer no resultado da economia. Mas especialistas lembram que há dois lados da moeda nessa equação. Nesta sexta-feira (01), foi divulgado o PIB brasileiro em 2023. Os números mostram um "pibão" da agropecuária nacional: 15,1%.
— Se a safra não traz grandes perspectivas para 2024, nos ajudou muito em 2023. É preciso comemorar, porque nenhum país do mundo teve isso — destaca Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), em relação à expansão do agro no Brasil.
Diante desse percentual, argumenta Luz, mesmo com uma colheita normal, seria difícil igualar a marca — a base de comparação é elevada. Para completar, o tempo seco deve impor perdas na safra de verão brasileira. Incluindo a cultura da soja. Maior produtor nacional do grão, o Mato Grosso estima prejuízos nas lavouras pela falta de chuva.
A abertura nacional da colheita do grão foi realizada nesta sexta-feira (01) no RS, no município de Tapera. O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Ireneu Orth, avalia que os relatos dos agricultores indicam, por ora, que será possível ter uma produção de soja na casa de 20 milhões de toneladas. Menos do que se estimava no início do ciclo, mas dentro do patamar de normalidade, depois de dois anos consecutivos com quebra. O que não quer dizer que estará isenta de problemas.
— O excesso de chuva atrasou o plantio, teve áreas que não foram plantadas. Juntou-se a isso, dias sem chuva, calor e a ferrugem asiática — relata Orth, sobre outras fases do desenvolvimento da cultura.
No país, a situação é diferente. Com cerca de 40% da área colhida, as perdas já aparecem. E deverão se refletir na economia, para além do campo. O desempenho de indústria, comércio e serviços está conectado ao desempenho da produção.
O RS deve ficar bem neste ano, ao passo que, no Brasil, "seguramente teremos um PIB da agropecuária negativo em 2024", pontua o economista-chefe da Farsul. Ele faz a ressalva de que é preciso colocar, no entanto, essa performance em perspectiva:
— O PIB da agropecuária do RS, em relação ao último crescimento, que foi em 2021, está com queda acumulada de 45%. Mesmo crescendo em 2023, na comparação com 2022, não vamos conseguir recuperar esse percentual todo. Vamos levar muitos anos, por isso que as estiagens precisam ter um encaminhamento de medidas que venham a minimizar o problema.