A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Sufocado por uma crise histórica que se acentuou em 2023, o setor de leite começou 2024 com sinalizações que podem dar fôlego à cadeia produtiva. Trata-se de um remanejo de R$ 707 milhões do Plano Safra 2023/2024, anunciado pelo Ministério da Fazenda, para encorpar linha de crédito emergencial de capital de giro voltada a cooperativas de produtores de leite.
Apesar de aguardado, o recurso não é suficiente. Na avaliação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag), que representa o setor primário do Estado, a medida pode trazer apenas "alívio parcial" no bolso do produtor.
À coluna, o vice-presidente da Fetag-RS, Eugênio Zanetti, reconheceu a medida como "importante", mas ponderou que estaria "longe de resolver o problema":
— É uma linha já existente. O que está sendo feito de diferente é colocar mais crédito no Procap. Isso vai ajudar as cooperativas, mas não sabemos se vai reverter em aumento no preço pago pelo leite ao produtor.
Em nome das indústrias gaúchas do setor, o Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS) manifestou posicionamento similar. Em nota, reconheceu ser positiva a iniciativa, mas reivindicou que "o benefício se estenda também para as demais empresas que não operam em sistema cooperativo, uma vez que também foram prejudicadas pela entrada de grandes volumes de leite importado, principalmente do Mercosul".
Em alta pelo terceiro mês consecutivo, as importações brasileiras de derivados lácteos fecharam dezembro com o maior volume desde setembro de 2016, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP). No acumulado de 2023, as compras bateram recorde da série histórica da Secex, somando 2,25 bilhões de litros em equivalente leite. O aumento é de 68,8% em relação a 2022. O principal derivado lácteo adquirido pelo Brasil no ano passado foi o leite em pó.
Ainda conforme o Sindilat-RS, atualmente, mais da metade do leite captado no Brasil é vendido para empresas privadas não cooperativas.
Chamada de Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias (Procap-Agro Giro) Faixa 2, a linha busca socorrer os produtores afetados pelo baixo preço do leite. Até 30 de junho, eles poderão contrair empréstimos de 8% ao ano e 60 parcelas, com carência de 24 meses para o pagamento da primeira.
O capital de giro às cooperativas fazia parte de uma série de demandas do setor produtivo para amenizar a crise da atividade. No entanto, para Zanetti, as importações são o que mais preocupam a viabilidade da cadeia produtiva.
Preocupada com esse cenário, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), da qual a Fetag-RS faz parte, realizou uma reunião nos últimos dias. Nela, ficou acordado que será solicitado uma agenda com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, para que seja revisto o acordo com o Mercosul de importações e que haja um subsídio por parte do governo federal na produção de leite brasileira.
A criação da linha de crédito pelo Ministério da Fazenda foi aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em dezembro. Duas instituições financeiras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil, vão operar os financiamentos. O BNDES terá R$ 507,485 milhões para emprestar e o Banco do Brasil, R$ 200 milhões.