A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Foi uma combinação de pelo menos três ingredientes que fez a receita da indústria brasileira de máquinas agrícolas cair em 2023. Projetada em 20% pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a queda no faturamento do setor confirmada foi ainda maior. Chegou a 23,2% no Brasil em comparação ao ano anterior, totalizando R$ 63,79 bilhões, segundo levantamento divulgado pela entidade nesta quarta-feira (31).
No Rio Grande do Sul, responsável pela fabricação de mais de 60% das máquinas agrícolas do país, no entanto, as vendas reduziram em 15%, afirma Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS (Simers).
Para 2024, a perspectiva de vendas agora ganha um viés negativo no país. Pelo menos até o primeiro semestre, em função da seca no Centro-Oeste, avalia Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq.
— Mas, se a safrinha de milho for boa, se tivermos um bom Plano Safra no meio do ano, pode ser que isso se reverta — pondera o dirigente.
Já na avaliação de Bier, a expectativa é de que a safra de verão "maravilhosa" que está se desenhando no Estado reverta o cenário de 2023.
Com relação a 2023, entre os fatores que influenciaram o produtor a colocar o pé no freio nas compras estão o juro alto, a redução no preço das commodities e a seca na região central do país. No caso do Rio Grande do Sul, soma-se a estiagem no verão e a chuva na primavera.
— O setor esperava que em 2023 o faturamento caísse, porque considerando 2020, 2021 e 2022, a receita aumentou em 70%. Era certo que teríamos uma acomodação no mercado. Mas o cenário piorou a partir de novembro, em função da seca — esclarece Estevão.
Em Mato Grosso, a queda estimada na safra de soja chega a 17%, por exemplo.
Empregos foram mantidos, diz entidade
Apesar do cenário desafiador e de desligamentos registrados ao longo do ano, os dados da Abimaq indicam que os postos de trabalho no setor foram mantidos em 2023 no país. Houve acréscimo de 0,3%, fechando o ano com 118,76 mil pessoas.
Para Estevão, isso ocorre porque a quebra nas vendas foi conjuntural, e não estrutural:
— Mandar embora é a última coisa que o empresário vai fazer, ainda mais com mão de obra treinada. Vai fazer banco de horas, dar férias coletivas. Porque, se a safra de milho for boa, se o Plano Safra for bom, o cenário volta a ser positivo. E aí contratar de novo se torna mais caro.
Para 2024, o dirigente projeta que o setor não deva ter a abertura de novas vagas de trabalho.