Depois de um crescimento acelerado, a indústria brasileira de máquinas agrícolas deve fechar 2023 com um ritmo menor. Na apresentação dos dados referentes até o mês de setembro, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) trouxe uma projeção revisada para o resultado do ano. A redução nas vendas, inicialmente estimada em 3,5%, passa a ter previsão de 10%. Mesmo recuo verificado no acumulado até o nono mês.
— É uma queda que obviamente não estamos felizes de anunciar, mas não podemos perder de vista que, ainda assim, é um ano positivo (2023) quando comparado a uma série histórica dos últimos cinco, seis, sete, oito anos. A venda ainda é superior aos anos anteriores, mas inferior a 2022 — ponderou Ana Helena de Andrade, vice-presidente da Anfavea na divulgação.
Além da base alta de comparação, a executiva cita o preço das commodities — que se reacomodou em um patamar diferente do de 2023 — e o rápido esgotamento dos recursos de financiamento dentro de linhas do Plano Safra como fatores que ajudam a explicar o cenário desenhado ao longo deste ano. No Rio Grande do Sul, onde são produzidas mais de 60% das máquinas no país, somam-se outros ingredientes. Depois de um verão com resultado na produção sob impacto da falta de chuva, agora é o excesso de que tem interferido.
— No Sul, tivemos essas enchentes que tão atrapalhando o trigo. No Rio Grande do Sul, os arrozeiros estão com dificuldade de plantar. Não para de chover, isso tira o ânimo das compras — avalia Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers).
O juro dos financiamentos é considerado elevado diante da conjuntura atual, aponta Bier, e é outro ponto que pode estar pesando na hora da tomada de decisão sobre o investimento. Com relação a eventuais necessidades de cortes de vagas no setor — a John Deere anunciou o desligamento de 297 trabalhadores do quadro na fábrica de Horizontina —, a avaliação é de que não é generalizada.
— A régua de comparação é alta. O ano passado foi excepcional, todo mundo contratando para atender os pedidos. É um momento de acomodação, não chega a ser de dificuldade — diz Bier.