Novamente às voltas com o problema, o Rio Grande do Sul sabe que o prejuízo da falta de chuva vai além dos números brutos da receita da produção agropecuária. Divulgado agora, o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) de 2020, ano em que o fenômeno também deu as caras no Estado, evidencia a influência do tempo seco sobre os resultados. O indicador fechou em 0,768 — de uma escala que vai de zero a um —, sob o impacto da estiagem e da pandemia, destaca a pesquisa elaborada pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria Estadual de Planejamento.
O pesquisador Tomás Fiori observa que, descontada a excepcionalidade do ano e os efeitos ainda não capturados da pandemia, o indicador “consolida características bem regulares nas três dimensões do desenvolvimento do RS" (os blocos saúde, renda e educação, que compõem o Idese), com “a renda muito suscetível aos revezes climáticos”. O bloco renda, composto por geração e apropriação da riqueza, ficou em 0,723 — o menor da série histórica iniciada em 2013 — e puxou a baixa do índice geral.
— Não é só uma queda natural da geração, há também uma redução da apropriação de renda, o quanto é convertida em riqueza local — explica Fiori.
Sob a pandemia e a estiagem, o que se viu, acrescenta, foi uma vazamento da renda: além de ser menor em termos totais, acaba indo mais para outras regiões e tipos de uso. Um exemplo, cita o pesquisador, foi o aumento do consumo pela internet, de serviços de streaming, que geram renda em outros locais, durante o confinamento. Da mesma forma, a quebra na safra de milho ampliou a necessidade de compra do grão em outras regiões (já que o Estado não é autossuficiente, mesmo com produção normal). E isso é , mais do que renda que deixa de ser gerada, que deixa de ser “apropriada” localmente.
Ainda no bloco renda, há um dado interessante no ranking de municípios. Camargo, que aparece em primeiro lugar, com 0,982 (de um índice que tem como máximo 1). O avanço no indicador foi de 25% em relação a 2019, fazendo a cidade saltar da 19º posição para entrar pela primeira vez no top três. Escalada expressiva que foi impulsionada pelo refino de biocombustíveis — e reflete um investimento feito por indústria local.