O jornalista Danton Boatini Júnior colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Uma pesquisa coordenada pela Embrapa visa a reduzir o passivo ambiental da indústria de alimentos e, ao mesmo tempo, enriquecer a dieta alimentar dos bovinos. A ideia é utilizar rejeitos da produção agroindustrial na alimentação dos animais. Entre os itens a serem testados, estão subprodutos das indústrias de azeite de oliva e de vinho e suco de uva.
O estudo encontra-se em fase laboratorial. Os pesquisadores estudam, no momento, a estabilização desses resíduos para uso na alimentação animal. A avaliação dos animais está prevista para começar entre maio e junho do ano que vem. Os testes serão conduzidos em área de integração com a lavoura de soja, em pastagem de azevém, com a suplementação.
No caso da olivicultura, o potencial da pesquisa é considerado promissor, uma vez que apenas 15% do peso da azeitona corresponde a azeite.
– Na Europa, onde a produção de azeite é tradicionalíssima, esse resíduo é quase 100% aproveitado – explica a pesquisadora Cristina Genro, da Embrapa Pecuária Sul, de Bagé.
A especialista observa que há uma variedade enorme de itens que podem ser produzidos a partir destes subprodutos, tanto para alimentação quanto para cosméticos e compostos de uso medicinal.
De acordo com Cristina, a pesquisa surgiu a partir da identificação de uma mudança na matriz produtiva da região sul do Rio Grande do Sul, com o avanço da cultura da soja e o fortalecimento da produção de azeite de oliva e vinhos, observados nos últimos anos. Percebeu-se, então, que essas atividades geram um passivo ambiental considerável, ao mesmo tempo em que esses subprodutos poderiam ser mais bem aproveitados.
O ganho em termos de qualidade da alimentação pode não estar restrito aos animais. Uma hipótese, segundo Cristina, é de que o bovino que consome os resíduos da olivicultura pode dar origem a uma carne com menos colesterol. Isso porque o consumo de azeite de oliva auxilia na redução do LDL, o colesterol ruim.
COP26
De quebra, a iniciativa ainda pode representar um avanço na redução das emissões de metano na pecuária. O entendimento é de que uma dieta balanceada, formulada a partir de substâncias naturais, contribui para a redução do metano entérico, lançado na atmosfera pela eructação (arroto) dos bovinos.
A pesquisa vai ao encontro dos esforços estabelecidos recentemente para frear as mudanças climáticas. Em novembro do ano passado, durante a COP26, em Glasgow (Escócia), foi assinado acordo global com a meta de cortar em 30% as emissões de metano, considerado um dos principais responsáveis pelo aquecimento global, até 2030. O Brasil e outros 102 países assinaram o compromisso.
– Temos condições de atender o que nos foi demandado na COP26 – garante Cristina.
Para o setor da olivicultura, a iniciativa representa a oportunidade de minimizar um problema histórico, que é o aproveitamento dos resíduos (bagaço e caroço, principalmente). Em Portugal, que é um dos maiores produtores do mundo, as fábricas chegaram a ter atividades suspensas recentemente, após uma supersafra, por não haver capacidade de tratamento dos rejeitos.
A produção nacional ainda não é tão grande, diferentemente da Europa. O Brasil produz cerca de 1% do azeite de oliva que consome. Mas o setor está em crescimento. O presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes, diz que a busca por alternativas quanto à destinação dos resíduos é fundamental para que as indústrias sigam em expansão. Hoje, parte deste material é usado no campo como fertilizante.
– O rejeito não é descartado de forma irregular – resume.