Duramente afetado pela estiagem, o Rio Grande do Sul faz parte do itinerário de nova metodologia que vem sendo implementada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na busca por estatísticas da safra que se aproximem cada vez mais da realidade vivida no campo. A ideia é consorciar os dados objetivos do novo modelo, que inclui a coleta de amostras, aos subjetivos, como os levantamentos de safra mensais. Nessa entrevista à coluna, o presidente da companhia, Guilherme Ribeiro, falou sobre esse e outros temas relacionados ao órgão que, nesta terça-feira (12) completa 32 anos de criação. Confira trechos da entrevista.
A Conab realiza de forma sistemática os levantamentos de safra. Como avalia os descompassos por vezes existentes entre diferentes projeções? Há um atraso em relação à situação vivida no campo?
Infelizmente, não temos (dados) simultaneamente. O 7º levantamento anunciei no dia 7 (de abril), e os nossos técnicos foram a campo de 20 a 26 de março. Coletamos os dados no mês passado, trouxemos para fazer o saneamento, apurar e organizar estatisticamente, para depois fazer a divulgação. Sempre haverá um pequeno delay (atraso). Se acontecer alguma coisa após o último dia analisado, não tem como computar automaticamente, uma vez que os dados já estão sendo tratados. Isso ficou evidente, no início do ano, com a seca. Nós conseguimos, em um primeiro momento, na divulgação do quarto levantamento, fazer o cômputo do milho, porém, a soja não entrou na quebra naquele momento. Veio só no quinto levantamento. Por quê? Porque nossos técnicos já tinham ido a campo. Depois, quando veio a seca ou atingiu de fato a soja, adiantamos a ida dos técnicos, para tentar antecipar e conseguir captar com maior precisão. Estamos tentando, com as novas metodologias, objetivamente e subjetivamente, conseguir captar mais rápido e no mesmo momento que acontecem as coisas, mas sempre haverá um delay. Mas são coisas pequenas, agora. Tanto que os nossos números estão se mantendo em uma constante. A soja entrou em um patamar de 122 milhões (volume projetado para a colheita do Brasil) e está se mantendo. Agora são pequenos ajustes.
Considerando que ainda há um bom percentual de soja por colher, vê espaço para ser mantida a previsão de aumento na produção brasileira ou a colheita do total de grãos no Brasil pode estacionar?
Pelos estudos que temos aqui, devemos fechar muito próximo de 269 milhões (toneladas de grãos colhidas no país), um pouco a mais, um pouco a menos, dependendo da segunda safra de milho, que está vindo bem. Não vai sofrer muita alteração, a não ser que se tenha algo de novo, no segundo semestre, em relação a essa questão climática.
Como avalia a atuação da Conab em relação aos estoques públicos e a divulgação e transparência de dados sobre oferta?
Hoje já podemos comprar para a venda de milho a balcão, com preço de milho competitivo. Temos valores para comprar até 200 mil toneladas. Com isso, temos estoques suficientes para atendimento. Todo mundo fala: "nossa, mas a Conab não está mais fazendo estoque", mas o pessoal acaba se esquecendo de que temos de cumprir uma lei, que determina a compra do grão quando o valor está abaixo do preço mínimo. E, hoje, não temos valores abaixo do mínimo. A questão básica e primordial é que todos grãos não têm mais tido o preço mínimo.
Qual o orçamento da Conab para este ano?
Hoje estamos com R$ 1,6 bilhão. A folha continua sendo o maior pagamento, mas acho que como administrador você tem de buscar soluções, reduzir custos e tentar inovar. Não é porque ficamos com menos recursos que temos de parar. Pelo contrário, temos de trazer soluções. É o que a gente vem buscando. Mas dá para se tocar a máquina com esse valor.
O senhor falou na Expointer sobre um programa de desligamento incentivado, como ficou?
Fizemos em dezembro do ano passado, tivemos a adesão de 220 vidas e conseguimos fazer. Tínhamos possibilidade de em torno de mil vidas. Pensando nesse todo, foi um número satisfatório e ficamos contentes com o resultado.
Considerando a transformação da própria agropecuária no período, com que papel chega a Conab chega neste 12 de abril aos seus 32 anos?
A missão continua a mesma, o que temos tentado fazer é modernizar e trazer novas ideias, contribuições. O que não podemos fazer é continuar com a mentalidade de 32 anos. As coisas mudam, tecnologias são introduzidas. E é isso que temos feito aqui: dado à Conab o papel de relevância que ela teve, tem e continuará tendo. Sem esquecer o produtor, ajudando na questão da renda, levando alimentos na questão institucional e também a questão da informação. Sem a informação não somos nada. A segurança alimentar é importantíssima também, mas as informações que temos buscado aprimorar são fundamentais para chegar nesses dados e nas entregas que a gente quer. Sem informação, não conseguimos as entregas que estão dentro da missão. Temos de evoluir trazendo a modernidade e a tecnologia. Em 32 anos, muitas coisas mudam.