Com cavalos a postos e atletas na expectativa, mas, desta vez, virtualmente. Diante do agravamento da pandemia, assim como outras entidades, a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) teve de adaptar as competições. No Inclusão de Ouro, os participantes do último ano podem se classificar para a final de 2021 enviando um vídeo até 15 de agosto com a execução do percurso da prova. Para os novos ginetes, há possibilidade de uma classificatória presencial, mas ainda a ser definida. A disputa é voltada a pessoas com deficiência. A final está prevista para ocorrer entre 24 e 28 de novembro, conforme calendário divulgado no dia 11 de março pela ABCCC.
Um dos que pretendem participar da classificatória é Luciano Silva Freitas, de São Leopoldo, que tirou o terceiro lugar na categoria Força B do Inclusão de Ouro de 2020. Devido a um acidente que o deixou com múltiplas deficiências no corpo, Freitas precisa hoje do auxílio da bengala e, às vezes, da cadeira de rodas. Não que isso o tenha impedido de praticar, além do esporte paraequestre, a paracanoagem, o pararremo e de voltar ao paraciclismo.
— Saí do tratamento, quando eu consegui andar e chegar perto de um barco e de um cavalo, eu já comecei — conta.
No processo de recuperação, frequentou sessões de equoterapia, método terapêutico que utiliza o cavalo para auxiliar no desenvolvimento biopsicossocial do participante. Segundo Eros Spartalis, representante da Associação Nacional de Equoterapia (Ande), a prática era muito comum na Europa para tratamento dos recuperados de guerra. No Rio Grande do Sul, são cerca de 40 centros com essa especialidade filiados ou agregados à Ande.
Foi também com ajuda da equoterapia que Rodrigo Beduschi, de Porto Alegre, voltou a competir depois do acidente que o deixou com uma lesão medular, impossibilitando o movimento das pernas. Beduschi é o campeão do último paraenduro (modalidade de prova com cavalo) da Associação Gaúcha do Cavalo Árabe, realizado em 2019. E, desde 2020, está como presidente do Núcleo Sul da raça quarto de milha.
— Cada raça está trabalhando de alguma maneira para que haja essas provas de inclusão, então acho que está no caminho certo.
Apesar disso, Tatiana Capra de Castro, vice-presidente da Federação Gaúcha de Esportes Equestres, entende que ainda há "muito para avançar" na área:
— Muito poucas escolas têm cavalos e equipamentos apropriados, e eu acredito que também não existe muita divulgação dessa parte de ser um esporte onde a pessoa com deficiência pode participar, pode se incluir — complementa.
Nos Jogos Paraolímpicos, a modalidade de adestramento paraequestre é a única relacionada ao hipismo. Pré-qualificado para a competição, prevista para 24 de agosto a 5 de setembro, Sérgio Fróes Ribeiro de Oliva, de Brasília, está à espera de uma convocação formal.
— (Estou) no aguardo, esperando o momento de poder embarcar e ir lá buscar uma medalha para o Brasil — comenta.
Oliva, que tem paralisia cerebral com triplegia (perda total das funções motoras em três membros) desde seu nascimento, relata que entrou no mundo equestre sem pretensão de ser atleta. Hoje tem em sua história, entre outras conquistas, duas medalhas de bronze na Paraolimpíada do Rio 2016: uma na prova individual mista grau 1 e outra na individual freestyle grau 1.
Quanto ao animal, conforme Arnaldo Conde, diretor de equitação paraequestre da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) até 2020, inteligência e facilidade para aprender, resistência para realizar repetições, docilidade e paciência são algumas das características buscadas para o esporte.
*Colaborou Isadora Garcia