O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A dificuldade de abastecimento de matéria-prima chegou à indústria vitivinícola. As empresas da Serra Gaúcha voltadas à fabricação de suco de uva, vinho e espumante começaram a ter problemas para conseguir itens básicos para a produção, como garrafas de vidro. A situação é generalizada e já afeta o ritmo de produção em uma série de companhias, justamente em um ano marcado pela forte demanda por bebidas no mercado interno.
– O setor tem dificuldade com vasilhames. Muitas empresas estão buscando fora do país, mas ainda assim não vão conseguir entregar os pedidos até o final do ano. Também há problemas para conseguir cápsulas, rótulos, embalagens – relata Deunir Argenta, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).
A situação é mais crítica nas garrafas porque o fornecimento costuma ser realizado por uma única fábrica. Com a pandemia, essa unidade chegou a fechar temporariamente e, no retorno, viu a demanda saltar. Neste sentido, há descompasso entre os pedidos das vinícolas e a capacidade de entrega do fornecedor.
Em meio a esse contexto, algumas das principais vinícolas do Estado têm de fazer pausas forçadas na produção. A falta de garrafas levou a Aurora, de Bento Gonçalves, a paralisar a linha de suco de uva por dois dias na semana passada e deixar de elaborar 300 mil litros.
A Garibaldi também interrompeu momentaneamente as atividades, há duas semanas. Presidente da cooperativa, Oscar Ló aponta que recentemente foram adquiridas cerca de 500 mil garrafas na Argentina. Mesmo assim, não será suficiente para suprir toda a demanda das linhas de sucos e espumantes.
– Não casou a entrega do produto (garrafas) com a programação de produção e tivemos de parar dois dias. Está prevista nova parada em seguida – diz Ló, constatando que cada dia parado são 150 mil litros a menos a serem envasados.
Na Nova Aliança, de Flores da Cunha, o panorama é semelhante. O presidente da cooperativa, Alceu Dalle Molle, ressalta que, caso houvesse matéria-prima disponível, a empresa poderia faturar até 10% a mais no final do ano. A fábrica deverá parar por até uma semana no final de novembro, com impacto diário de 110 mil litros.
– Infelizmente, pelo que temos de informação, essa situação (da falta de garrafas) deverá seguir até o ano que vem – lamenta.
Além da escassez de insumos, os custos de produção estão subindo. No caso das garrafas importadas, pesa o dólar alto. Já nas embalagens, a diminuição da oferta encareceu artigos como o papelão em até 30%. Com isso, a tendência é de que os preços das bebidas ao consumidor final aumentem, ao menos, 10% nos próximos meses.