Menos de uma semana depois da confirmação de que a China suspendeu três frigoríficos do Brasil, novo cancelamento de habilitações para exportação deixou a indústria apreensiva. A preocupação se justifica à medida que o país asiático é hoje o principal destino da carne brasileira, e muitas empresas se prepararam para estarem aptas a entrar nesse mercado de apetite voraz e boa remuneração. Por outro lado, a falta de clareza dos motivos para a adoção da medida alimenta teorias variadas.
Uma delas a de que os chineses estão usando a repercussão negativa dos casos de covid-19 registrados em frigoríficos para justificar a iniciativa. Na nova leva de restrições também não há maiores informações sobre as razões. A JBS, que anteriormente teve a licença para exportação da unidade de Passo Fundo retirada voluntariamente pelo Ministério da Agricultura, agora perdeu a habilitação para a unidade Três Passos. Em nota (leia a íntegra abaixo), limitou-se a dizer que “não comentará a decisão”. E acrescentou que “não tem medido esforços” para garantir qualidade e segurança dos alimentos, além de “máxima proteção” dos trabalhadores. A outra descredenciada é a parte de suínos da BRF em Lajeado. A companhia diz não ter sido notificada oficialmente. E ressalta desconhecer as razões para a medida, mas atua com autoridades para revertê-la.
Diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo Santos observa que o governo brasileira precisa dar uma resposta aos chineses, valorizando protocolos adotados pelas empresas. Ele acrescenta que, nos últimos três meses e meio, foram investidos cerca de R$ 28 milhões em ações de prevenção e controle no RS.
Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra questiona, ainda, a eficiência de algumas medidas exigidas, como a dos testes rápidos:
— Há falsos positivos e falsos negativos.
Entidades do setor encaminharam pedido ao Piratini para alinhamento das regras estaduais à portaria interministerial, que será avaliado pelo gabinete de crise da covid-19. O documento foi alvo de críticas e motivou nota técnica do Ministério Público do Trabalho, por divergir de referências técnico-científicas nacionais e internacionais na prevenção e controle da doença. Priscila Schvarcz, procuradora responsável pelo projeto de fiscalização de frigoríficos do MPT-RS, avalia que a solicitação das indústrias pode ter efeito contrário ao desejado:
– Apenas favorece as poucas empresas que se recusam a adotar medidas de prevenção adequadas e prejudica as que se empenham diariamente na busca da redução do impacto à saúde dos trabalhadores.
Balanço do MPT-RS mostra que 5.502 casos confirmados em 34 frigoríficos do Estado.
AS NOTAS DAS EMPRESAS
O que diz a JBS:
"A JBS não comentará a decisão e reitera que não tem medido todos os esforços para a garantia do abastecimento e da produção de alimentos dentro dos mais elevados padrões de qualidade e segurança além da máxima proteção dos seus colaboradores. A empresa implementou uma série de medidas de controle, prevenção e segurança em todas as suas unidades e que estão em conformidade com a Portaria interministerial nr. 19, de 18 de junho de 2020 (Ministérios da Saúde, Agricultura e Economia). As medidas também seguem as orientações dos governos estaduais e municipais, além de contar com a consultoria e recomendação de médicos infectologistas especializados, como Dr. Adauto Castelo Filho, e instituições de referência, como o Hospital Albert Einstein. Saiba mais sobre as medidas adotadas pela JBS no link: https://jbs.com.br/comunicacao/covid-19-principais-medidas-de-protecao/"
O que diz a BRF:
"A BRF informa que não foi notificada oficialmente sobre a suspensão da habilitação para exportações de carne suína de sua unidade de Lajeado (RS) e que tomou conhecimento do fato através de publicação no site da Administração Geral das Alfândegas da China – GACC. A empresa ressalta que desconhece o motivo desta decisão e que já está atuando junto às autoridades brasileiras e chinesas, incluindo o Ministério da Agricultura – MAPA, o Ministério de Relações Exteriores – MRE, a Embaixada da República Popular da China no Brasil e o próprio GACC, para reversão da suspensão no menor prazo possível e tomando todas as medidas cabíveis para restabelecer tal habilitação. Vale salientar ainda que os órgãos chineses já realizaram testes em mais de 50 mil amostras de alimentos de forma aleatória procedentes de diversos países e das mais variadas empresas e nada foi constatado até o momento.
Adicionalmente, a Companhia esclarece que, desde o início do surto de Covid-19 no mundo, adotou protocolos de saúde e segurança e planos de contingência em todas as suas unidades fabris no Brasil e no exterior. Cabe ressaltar ainda que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, a transmissão da Covid-19 ocorre pelo contato próximo com pessoas infectadas e não há evidências de transmissão da doença através de alimentos ou suas embalagens.
Além disso, os protocolos de qualidade da empresa se baseiam nos cinco pilares e segurança alimentar definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), do campo à mesa. Mesmo neste cenário desafiador em que a Covid-19 atingiu diversos países do mundo, a BRF segue respondendo às novas necessidades globais, elevando os patamares de segurança e qualidade em todas as suas operações – princípios fundamentais e inegociáveis para a Companhia".