O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) está em busca de investidores. O movimento lançou um projeto chamado Financiamento Popular (Finapop), que pretende captar recursos no mercado financeiro para expandir a produção das cooperativas de agricultores familiares vinculadas ao grupo.
Articulada em conjunto com o economista Eduardo Moreira, a iniciativa beneficiou a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), da Região Metropolitana de Porto Alegre, em sua primeira etapa. A partir da emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), a Coopan recebeu R$ 1 milhão de sete investidores. O retorno anual oferecido é de 5,5%, com pagamento em seis anos.
O dinheiro será utilizado pela Coopan na conclusão da construção de um abatedouro de suínos, que teve as obras iniciadas antes da pandemia de coronavírus. O objetivo é processar mais de 50 produtos, com foco em embutidos como linguiça e salame.
Nos próximos meses, mais processos de financiamento serão abertos dentro do Finapop. Um novo CRA será utilizado para destinar R$ 5 milhões a cooperativas voltadas à produção de mel e cacau no Nordeste. Além disso, uma operação de R$ 25 milhões está sendo estruturada e atenderá de cinco a 10 projetos. Uma cooperativa gaúcha vinculada ao MST, que produz suco de uva, deverá ser incluída.
Moreira explica que a alternativa permite que as cooperativas consigam recursos com menor custo, se comparado com as linhas de crédito oferecidas pelos bancos. Por outro lado, a iniciativa permite que o investidor aloque seu dinheiro em causas que ele apoia. A inspiração veio do banco holandês Triodos, criado para financiar projetos sustentáveis e de impacto local.
– Hoje, as pessoas não têm ideia do que estão financiando com o dinheiro que elas deixam no banco. Com o Finapop queremos oferecer rentabilidade, mas você escolherá no que o seu dinheiro será usado – argumenta Moreira.
Inicialmente, o processo de captação tem sido feito junto a investidores qualificados, aqueles com experiência no mercado e patrimônio investido acima de R$ 1 milhão, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Com o passar do tempo, a intenção é abrir os projetos a pequenos investidores.