Pela segunda safra consecutiva, análises laboratoriais comprovam não só a manutenção como também a ampliação dos casos de deriva do herbicida 2,4-D no Rio Grande do Sul. Relatório da Secretaria da Agricultura encaminhado nesta quinta-feira (21) para o Ministério Público do Estado mostra que, das 171 coletas feitas em 54 municípios, 87,13% — ou seja, 149 — apontaram a presença do produto em culturas que não a indicada. Isso apesar de estarem valendo regras criadas para tentar conter o avanço do problema. No ciclo anterior, o percentual foi de 85,2%, sobre 81 amostras.
O não cumprimento das normativas, publicadas em julho do ano passado, é apontado como uma das razões para o aumento verificado. Outro ponto levantado, observa Rafael Friedrich de Lima, chefe da Divisão de Insumos e Serviços Agropecuários da Secretaria da Agricultura é de que houve mais denúncias em relação ao ano anterior:
— O produtor rural está mais atento à propriedade e conhecendo bem os efeitos característicos que o produto causa . Nossas ações foram a partir de denúncias.
Uma das exigências mais foi descumprida é da comunicação de aplicação do produto em prazo de até 10 dias. O município com o melhor percentual de atendimento, Dom Pedrito, na Campanha, teve só 46,03%. Na região, segundo a secretaria, foram 26 auto de infração desde a publicação das instruções normativas. E há previsão de que 120 produtores possam ser autuados por não respeitarem as normas. A regra era exigida nos 24 municípios onde a deriva havia sido detectada no ciclo 2018/2019.
A relação de culturas afetadas e também cresceu, ainda que a maior incidência seja na uva na maçã. Responsável pelo inquérito no MP sobre o caso, o promotor Alexandre Saltz avalia que os número mostram que o problema é sério e que como tal tem de ser uma política e Estado.
— O produtor que comprou e não declarou ou que aplicou em desconformidade às normas cometeu um crime segundo a lei de agrotóxicos — afirma.
Ele garante que serão encaminhadas as responsabilizações criminais e civil — para isso deve se reunir com promotores das cidades com casos positivos. O grupo de trabalho da secretaria que trata do tema se reúne na próxima semana. dia 27.
Os números revelam que as tentativas feitas até não conseguiram conter a deriva. As regras cridas são, sim, um avanço, mas o descumprimento precisa ter consequências. Do contrário, serão mais uma das tantas normas sem efeito.
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