A jornalista Karen Viscardi é colaboradora da colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O impacto do surto de coronavírus, declarado emergência de saúde pública internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não se reflete no agronegócio brasileiro. Mesmo os contratos futuros de soja, que acumulam perdas de 5,7% desde 21 de janeiro, têm efeito negativo compensado pela alta do dólar, que na sexta-feira alcançou R$ 4,28. O valor é recorde nominal histórico no Brasil. Vale lembrar que a China, onde se originou a epidemia, é a principal compradora da oleaginosa.
– É muito cedo para fazer avaliação mais precisa sobre os efeitos da doença. Acho que teremos problema pontual, mas não sabemos se será um mês, dois, três ou quatro meses – afirma Carlos Cogo, consultor em agronegócio.
Por enquanto, apenas as commodities, que já estavam sofrendo com os reveses do acordo entre China e Estados Unidos, tiveram certa contaminação com a propagação da doença. Nas carnes, ainda não há reflexos no Brasil e, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), a demanda por proteína animal não será afetada no curto prazo.
– Os preços das carnes vinham de nível alto no ano passado e a redução em janeiro ocorreu por acomodação de valores e menor consumo pelas férias escolares – detalha Cogo.
Os líderes das indústrias de proteína animal JBS, BRF e Marfrig não esperam consequências negativas nos negócios, segundo o site Infomoney. O CEO da BRF, Lorival Luz, considerou, inclusive, a hipótese de incremento no volume de exportações em razão de maior necessidade por segurança alimentar.
Lembrando que a peste suína africana, que levou ao abate mais de 1 milhão de animais na China, ajudou a elevar o volume de exportações de carne brasileira de frango (34%), suína (61%) e bovina (53,2%) para aquele país, conforme dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Mas ainda não se sabe os efeitos da crise sanitária sobre a economia chinesa, se a renda da população irá cair e, consequentemente, o consumo de carne.
Assim como os resultados sobre os negócios geram dúvida, as incertezas sobre a doença persistem. A Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) reuniu informações sobre o coronavírus (2019 n-CoV), incluindo formas de contágio e cuidados com animais vivos e seus subprodutos, já que as infecções não são comuns somente em humanos.
Ainda não há relatos do vírus em animais, de acordo com o Ministério da Agricultura. A orientação é evitar consumo de alimentos de origem animal não inspecionados, crus ou malcozidos.
Nos portos e aeroportos, a diretriz da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é intensificar os procedimentos de limpeza e desinfecção nos terminais e meios de transporte. Entre as medidas para reforçar a segurança, o Porto de Rio Grande passou a exigir o itinerário por parte dos navios oriundos da China e a declaração sobre o estado de saúde dos tripulantes 72 horas antes da chegada.
Com o elevado risco da doença para a saúde humana e para a economia mundial, todo cuidado é pouco.