O auditório lotado da Famurs, em Porto Alegre, na tarde desta quinta-feira (10), é um demonstrativo da preocupação que o quadro atual de estiagem causa nos municípios do Rio Grande do Sul. Prefeitos do Interior e representantes de entidades ligadas ao setor produtivo participaram de reunião para tratar do tema. A Emater apresentou projeções de perdas em relação à estimativa do início do ciclo. O milho está entre as culturas mais afetadas. A distribuição dos efeitos negativos, no entanto, não é uniforme, nem dentro de cada uma das de uma mesma regional da Emater (são 12 no Estado).
Se o quadro atual traz inquietação, outra informação destacada também. O histórico gaúcho indica recorrência de problemas de falta de chuva nesta época do ano. De cada 10 anos, sete têm restrições hídricas, mas sem grandes impactos. Em três, a falta de chuva acaba tendo efeitos sobre a economia, observou o secretário de Agricultura em exercício, Luiz Fernando Rodriguez Júnior. A última seca com prejuízos generalizados sobre a produção de verão foi em 2012. Depois disso, vieram sete colheitas cheias, inclusive com recordes. Isso deveria ter acendido um alerta.
Pelo contrário, fez ações que ajudam a mitigar os danos da falta de chuva ficarem em segundo plano. Um exemplo vem do Programa Mais Água, Mais Renda, voltado à irrigação, com previsão de subvenção , criado em 2012. O número de projetos apresentados — e a consequente área contemplada por eles — veio minguando ao longo dos últimos anos. Somou 21,01 mil hectares com 715 projetos em 2014, mas de lá para cá caiu, fechando 2019 com apenas 165 projetos e área de 3,56 mil hectares. No total, o Estado soma neste programa 86,1 mil hectares irrigados. A título de comparação, a área cultivada na atual safra é estimada em 7,62 milhões de hectares.
— A discussão de programas de irrigação começa, mas para assim que chove — ponderou Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS).
O Estado planeja série de medidas para tentar amenizar os problemas decorrentes da falta de chuva. As iniciativas chegam, no entanto, com o carro andando. Deverá ser difícil colocar um freio nos prejuízos a essa altura. Outro ponto fundamental, a contratação de seguro, também precisa ser incentivada. Não é gasto, é investimento.
— É necessária política pública permanentemente voltada ao desenvolvimento da irrigação — reforça o secretário de Agricultura do RS.
Se não houver preparação para enfrentar períodos de escassez com potencial ameaça à produção, o RS fica sujeito à boa vontade de São Pedro para garantir uma boa colheita.
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