Demorou um pouco mais do que em outras áreas, mas o protagonismo das startups do agronegócio é uma realidade que veio para ficar no Brasil. Depois de entender que o ritmo das empresas inovadoras que buscam soluções para a produção não vai na velocidade da luz e, sim, na das safras, investidores veem nas agrotechs uma possibilidade real de negócio. E passam a direcionar seus esforços — e recursos para elas.
Esse “atraso” brasileiro — nos Estados Unidos, as startups do agro começaram a ganhar destaque há cerca de cinco anos — tem relação com algumas caraterísticas específicas do setor e do país. A falta de infraestrutura é um desses fatores. A precária conectividade no meio rural, por exemplo, pesou bastante. E trouxe aos inovadores de plantão o desafio de viabilizar o uso de ferramentas como inteligência artificial, big data e internet das coisas em um ambiente onde sinal de qualidade é coisa rara.
Outro ponto a ser considerado nesse delay é o fato de que o agronegócio brasileiro é complexo, elaborado, exigindo conhecimento de causa por parte de quem busca se aventurar nesse terreno.
— Investir no agro é algo que exige que você seja um especialista — afirma Francisco Jardim, cofundador da SP Ventures, empresa de venture capital com foco nas agrotechs.
E há a questão de timing. Uma agrotech tem um ritmo diferente do que uma fintech, por exemplo.
— Os ciclos de aprendizagem no agro são longos. Se experimento uma coisa nova, vou levar meses (para ver o resultado). No mundo digital, é teste AB. Boto agora e vejo quem clicou e quem não clicou — observa Cristiano Kruel, chefe de inovação da StartSe, empresa de educação do segmento.
Pedro Dusso, diretor-executivo da Aegro, startup do agro nascida em Porto Alegre e apontada por Jardim como aposta de primeira brasileira do segmento que alcançará faturamento bilionário, reforça esse entendimento:
— Não se pode ter a mesma expectativa ao investir em um negócio de agrotech que se tem com uma fintech. O retorno será diferente.
O interesse no tema é evidente. A AgroTech Conference, realizada pela StarSe na última quarta-feira (19), em São Paulo, reuniu cerca de 750 pessoas de todo o Brasil em busca de conhecimento sobre cenários, possibilidades e tendências de um futuro cada vez mais próximo.
Spoiler: experiências para produzir proteína animal em laboratório deixaram de ser coisa de ficção científica.
* A jornalista viajou a convite da StartSe