A notícia de que a Rússia considera suspender as importações de carne do Brasil ganhou repercussão – e trouxe uma ponta de preocupação – à indústria. Mas é preciso entender a mensagem por trás da advertência para saber o quanto de verdade ela traz.
Nas relações comerciais com os brasileiros, os russos vêm tentando, há algum tempo, emplacar produtos para colocar no mercado brasileiro. Estão nesta lista, cortes de picanha bovina, pescados e trigo. O ministro Blairo Maggi esteve no início do mês passado naquele país, tratando justamente da ampliação do comércio bilateral. Teria se comprometido a dar passe livre a esses itens.
Mas à medida que o tempo passa e os embarques não acontecem, o Kremlin decidiu subir o tom.
Com a boa e velha tática do argumento técnico – o de que teriam sido identificados traços de ractopamina em carne brasileira, substância de uso proibido lá –, o serviço sanitário da Rússia afirmou que a suspensão estava em análise.
– Seria impossível simplesmente criarem um embargo. Entendo mais com uma advertência de que na relação internacional a gente não pode atrasar, retardar – opina Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A incredulidade na suspensão tem relação com o fato de que, desde 2014, os russos mantêm embargos a produtos da União Europeia e dos Estados Unidos, devido às sanções econômicas impostas por conta do conflito com a Ucrânia. Ou seja: eles dependem do produto brasileiro para seguir abastecendo o mercado interno com proteína animal.
Mais de 90% da carne suína importada pela Rússia teve como origem o Brasil. O problema é que, neste contexto, eles também têm importância para as exportações brasileiras. Entre 40% e 50% da carne suína tem aquele país como destino. Ou seja, se as portas desse mercado se fecharem, os consumidores russos não serão os únicos prejudicados.
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, afirma que a pasta não recebeu nenhuma notificação sobre eventual suspensão e garante estar em diálogo com Moscou.
– Entendemos que é uma situação a ser cuidadosamente trabalhada, para evitar esse desconforto – avalia Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips).