Produção doméstica menor em razão da queda de área e problemas climáticos que afetaram o rendimento das lavouras e a qualidade do grão vão fazer os moinhos brasileiros importarem mais em 2018. As estimativas da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) indicam que será necessário trazer do Exterior pelo menos 7 milhões de toneladas. Nos últimos anos, a média foi de 6 milhões, diz o presidente do conselho deliberativo da entidade, Marcelo Vosnika.
A Abitrigo calcula que, após o país colher cerca de 6,7 milhões de toneladas no ano passado, a safra brasileira de 2018 será de 4,5 milhões. Para a Conab, serão 4,5 milhões de toneladas. O problema é que ao menos 500 mil, na avaliação da associação, não serão utilizáveis pela indústria. Enquanto isso, a previsão de moagem é de 11 milhões de toneladas. Vosnika lembra que, além do grão, a Argentina também quer exportar farinha para o Brasil. Com os custos de produção mais baixos, é natural que consigam colocar o produto no mercado brasileiro de forma mais competitiva, observa o dirigente:
— Isso é prejudicial. Se eles venderem farinha para o Brasil, vamos comprar menos trigo aqui — pondera.
Vosnika calcula que, hoje, o trigo argentino chega a R$ 750 a tonelada aos moinhos de São Paulo. Com os custos de frete, o grão paranaense pode ser entregue até um pouco mais caro ao Estado vizinho, calcula.
— Como o Brasil este ano está muito dependente da importação, a única variável que pode pressionar é o câmbio — analisa Vosnika.
O quadro de escassez no mercado interno levou o Ministério da Agricultura a pedir a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para importar até 750 mil toneladas de forma do Mercosul. O pedido será analisado pela Câmara de Comércio Exterior (Camex). Além disso, como forma de evitar o embargo de frigoríficos, o Brasil pode importar trigo da Rússia.
O analista Elcio Bento, da Safras & Mercado, estima que a Argentina vai produzir este ano entre 17,5 e 18 milhões de toneladas, o suficiente para atender à demanda brasileira.
— Não há necessidade de trazer trigo de fora do Mercosul — sustenta.
A Abitrigo defende a necessidade da vinda de fora para abastecer principalmente os moinhos das regiões mais ao norte do Brasil, devido a questões logísticas. Projeções da consultoria INTL FCStone indicavam, ano passado, expectativa de safra mundial de 751 milhões de toneladas. Um mês antes, a estimativa era de 744,8 milhões. Para a Argentina, no início da colheita, há alerta para o excesso de chuva. Com isso, as previsões são um pouco mais cautelosas, algo entre 16 milhões e 17,5 milhões de toneladas.