Um dos efeitos da crise política desencadeada após as delações dos irmãos Batista, o sobe e desce do dólar requer atenção do produtor de soja. Momentos de pico da moeda norte-americana, assim como das cotações do grão na Bolsa de Chicago, representam boas oportunidades de venda da safra. Foi a combinação registrada nesta segunda-feira (22) o dólar fechou a R$ 3,28 e o bushel (equivalente a 27,2 quilos), a US$ 9,56 para contratos com vencimento em julho.
– O produtor deve aproveitar quando houver movimentos de Chicago para cima e dólar em alta – alerta João Luz de Almeida, proprietário da Agro Almeida.
Ontem, acrescenta, a saca era negociada a R$ 69,50 em Canoas – para pagamento em 20 de agosto. Uma semana antes, valia R$ 1 a menos. Consultor da Safras & Mercado, Luis Fernando Gutierrez Roque também vê nesses momentos de alta do câmbio uma chance de fazer bons negócios:
– Na semana passada, o produtor apareceu mais para a venda. Ele ainda tem muita soja na mão.
Atualmente, mais de 65% do grão – a colheita foi recorde, de 18,21 milhões de toneladas – ainda está com os agricultores, à espera de melhores preços. Levantamento feito pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS) mostra que o valor pago pela saca, nos primeiros 10 dias de maio, está 22% menor do que em igual período do ano passado.
Outro fator – além da valorização em Chicago e da alta do dólar – que torna os negócios recomendáveis é o prêmio pago no porto de Rio Grande. Conforme o consultor em agronegócio Carlos Cogo, com os valores previstos ontem, o bushel fica acima de US$ 10.
A comercialização da safra está atrasada, e o produtor pode ir vendendo quando as altas ocorreram para "fazer um preço médio melhor", orienta Almeida. Mesmo quando a cotação da commodity está em baixa, a investida valeria a pena porque o câmbio em disparada compensaria essa diferença, afirma Roque.
Em se tratando de mercado, há espaço ainda para a especulação em torno do futuro da safra dos Estados Unidos.
– Enquanto a colheita não começar, tem espaço para tudo – observa Cogo.
Mas ficar contando com isso para negociar a produção não é das atitudes mais indicadas, opinam especialistas.