Ao envolver o presidente de uma entidade do agronegócio em suas delações, a JBS intensificou os efeitos do escândalo. Antonio Jorge Camardelli é presidente da Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), órgão de grande representatividade no segmento, sobretudo no Exterior. É com a ajuda da entidade que acordos para exportação de carne são costurados.
Segundo Joesley Batista, teria sido por meio deste dirigente que parlamentares gaúchos receberam dinheiro, no Rio Grande do Sul. Médico veterinário, Camardelli nasceu no Estado e fez carreira no Ministério da Agricultura. Mais do que isso, tem proximidade com a JBS. Diretor-executivo da Abiec entre 2003 e 2008, saiu da entidade para ocupar o cargo de diretor de estratégia empresarial da marca. E deixou a função em 2010, justamente para ocupar a presidência da associação.
– A leitura que ficou, na época, é de que a JBS botou um dos seus na entidade – comenta fonte do setor.
O presidente da Abiec quando Camardelli ocupava o cargo de diretor-executivo era o ex-ministro Pratini de Moraes, que também passou pelas fileiras da JBS. Resta saber como o segmento receberá essas novas informações e de que forma impactarão nos negócios.
No mercado interno, o gigantismo da JBS parece impor ritmo de normalidade às operações de abates.
– Ninguém vai deixar de vender para eles, pela pouca opção que se tem – observa um especialista.
Por restrição, refere-se a um mercado altamente concentrado. No abate de bovinos, a empresa responde por cerca de 40% do total no país. No Rio Grande do Sul, onde tem atuação expressiva nos frigoríficos de aves, tem cerca de 30% do total de abates.
A coordenação nacional da JBS ainda não se posicionou sobre o andamento das atividades. Há apreensão no setor, que iniciava a retomada das vendas para o Exterior. O agronegócio entrou, em definitivo, no radar da Lava-Jato.