A extinção da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), parte do pacotaço do governo estadual, deu início a uma longa discussão sobre como será feito o desmonte da instituição.
A começar pelo destino dos 19 centros de pesquisa espalhados no interior do Estado – no total, são 22 estruturas, mas as demais não estão mais ativas – que somam 201 trabalhadores. Eldorado do Sul e Santa Maria são as que têm o maior contingente de funcionários fora da sede, em Porto Alegre. São 43 e 26 pessoas, respectivamente, entre pesquisadores, técnicos, auxiliares e administrativos.
– Que critérios serão utilizados para decidir pela manutenção ou pelo fechamento desses centros? Como ficam os funcionários que são lotados nessas unidades caso elas fechem? – questiona o pesquisador Carlos Alberto de Oliveira, que foi diretor técnico da unidade e pediu exoneração do cargo após ser informado do projeto de extinção.
Esse é um dos muitos questionamentos apresentados em carta entregue ao secretário da Agricultura, Ernani Polo, por funcionários da Fepagro. E o destino dos centros de pesquisa localizados no Interior segue, por ora, indefinido.
Segundo Polo, a ideia é tentar uma parceria com universidades. Oliveira rebate, dizendo que o governo "está fazendo uma proposição sem consultar os interlocutores". Não haveria interesse por parte das instituições de ensino em assumir as unidades.
O detalhamento da forma como será concretizada a extinção ficará a cargo de um grupo de trabalho, coordenado pela Secretaria-Geral do Governo. Segundo o titular da pasta, Carlos Búrigo, a formação do grupo se dará a partir da sanção do governador. Ainda não há, no entanto, uma definição do que será feito com as estruturas da Fepagro espalhadas por diferentes regiões do Estado:
– Vamos conversar depois.
Há ainda outra ponderação importante feita pelos funcionários da Fepagro. Se as estruturas fora da sede forem mantidas, qual será a real economia com o fim da instituição?
Do orçamento anual, que é de R$ 20,2 milhões, R$ 16,4 milhões são gastos com o pagamento de pessoal – diferentemente das demais fundações riscadas do mapa, essa não elimina o custo com os 289 trabalhadores (no total), que são estatutários. São apenas R$ 3,8 milhões com custos operacionais.
– E os recursos captados das agências de fomento para a pesquisa não estarão mais disponíveis. A secretaria não é elegível para isso. É preciso que seja uma instituição – pondera Oliveira.
Búrigo afirma que essa questão em particular "está sendo analisada" e uma solução será apresentada:
– O conceito do nosso trabalho não é só financeiro. Precisamos fazer uma gestão melhor. Queremos que as pesquisas sejam direcionadas ao interesse da sociedade.
É essencial que a nova configuração – que deveria ter sido pensada antes da proposta da extinção, diga-se de passagem – seja bem feita. Do contrário, sairá perdendo quem mais precisa que a busca por excelência continue sendo feita: o homem do campo, em especial o pequeno produtor, sem acesso aos produtos e soluções dos grandes laboratórios (privados) de pesquisa.