O Consumo de carne bovina per capita no país chegou em 2016 ao menor patamar registrado nos últimos 15 anos. É o que aponta estudo feito pela consultoria MB Agro, a partir dos abates inspecionados. Foram 30,7 quilos por habitante, número 2% inferior ao de 2015 e o menor desde 2001.
Para Cesar de Castro Alves, analista da MB Agro, o movimento de redução "foi bem claro no ano passado todo" e surgiu como resultado de uma combinação de fatores. Como, por exemplo, a economia ruim, que diminuiu o poder de compra, e o complicador milho – que elevou ainda mais o custo do confinamento.
– O ano passado não foi bom para o consumidor e nem para o produtor e foi médio para a indústria.
É um quadro que não deve ser muito diferente em 2017. Melhora só no segundo semestre – pontua.
Como bons apreciadores de churrasco, os gaúchos mantêm média acima da nacional – 45 quilos por habitante –, mas também foram menos às compras. A partir da percepção dos associados, o Sindicato da Indústria de Carnes e Produtos Derivados do Estado (Sicadergs) calcula redução entre 15% e 20% no consumo.
– Comíamos mais parelho com o Uruguai, agora estamos mais no patamar nacional, um pouco acima só. Ainda somos muito carnívoros – afirma Zilmar Moussalle, diretor-executivo do Sicadergs.
Fernando Velloso, da Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha, explica que o setor trabalha com dois termômetros: preço e facilidade de colocação do produto no mercado.
– Houve, sim, maior dificuldade de liquidez na hora do produtor vender, o que nos sugere uma dificuldade lá na frente, no consumidor – avalia Velloso.
No varejo, a percepção é de que o consumidor acabou migrando de corte bovino ou optando por outra proteína animal. Mas para Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), a razão não está no valor. Segundo o dirigente, houve redução de 2% no preço médio da carne bovina durante 2016. Por outro lado, o frango teve alta de 5% no valor médio e aumento de participação.
– O frango conseguiu agregar valor pela praticidade e pela conveniência dos produtos. Essa indústria inventou coisas mais práticas – diz Longo.
A carne bovina, que historicamente tinha 55% de participação, fechou 2016 com 53% (em volume físico cresceu 3%) e entra em 2017 com 50%.
Alinhando perspectiva econômica do país com o ciclo da pecuária, a má notícia vem mesmo para o pecuarista:
– Para o produtor, o cenário só tende a piorar, porque à frente devemos ter mais oferta de gado, o que puxa o preço para baixo – projeta o analista da MB Agro.