A queda de 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário no Brasil no primeiro trimestre, na comparação com igual período do ano anterior, não chega a surpreender. Esperava-se que os problemas climáticos provocados pelo fenômeno El Niño refletissem no desempenho do setor, ainda mais quando confrontado com uma base alta de comparação. Enquanto no Sul o excesso de chuva prejudicou as lavouras, no Centro-Oeste e no Matopiba a falta de umidade comprometeu a produtividade das principais culturas agrícolas. Mas o rendimento menor de determinados produtos, como milho, arroz e fumo (veja abaixo), não explica sozinho o encolhimento do PIB agropecuário no trimestre – o menor desde o quarto trimestre de 2012.
– A redução do consumo doméstico influenciou o desempenho da agropecuária. As famílias estão gastando menos, e isso inclui produtos como carnes – exemplifica José Vicente Ferraz, diretor técnico da Informa Economics FNP.
O consumo das famílias brasileiras, que estimulou a economia na década passada, caiu 6,3% no período, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O freio nas despesas atinge em cheio produtos como carne bovina, aves e leite.
– Além do efeito da retração do consumo, a pecuária teve queda no valor da produção, por conta do aumento dos custos do milho no mercado doméstico – explica o economista Rodrigo Feix, coordenador do Núcleo de Estudos do Agronegócios da Fundação de Economia Estatística (FEE).
Não é de agora que analistas vêm prevendo que a capacidade de resistência do agronegócio, em relação à instabilidade econômica, chegaria ao limite. É o que os números começam a mostrar: uma contaminação inevitável que poderá ficar ainda mais visível nos próximos meses se a economia não der sinais de recuperação.