A escassez de crédito agrícola fez os produtores rurais brasileiros usarem mais capital próprio e recursos de cooperativas para financiar as lavouras na safra atual. Levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB) mostra queda na participação dos bancos em financiamentos do setor, de 50% no ciclo passado para 42% agora. Enquanto isso, o percentual de capital próprio cresceu de 35% para 41% no mesmo período.
O movimento é explicado por três fatores: restrição no acesso ao crédito, juro mais elevado e capitalização do produtor devido a sucessivas safras cheias. E, com a projeção de manutenção desse cenário, a tendência é de que a migração nas fontes de financiamento ganhe ainda mais força na próxima safra.
– O sistema financeiro reage ao ambiente econômico. Enquanto a crise persistir, os produtores terão mais dificuldade em conseguir crédito – aponta Elmar Konrad, presidente da Comissão de Crédito Rural da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
O maior percentual de recursos próprios destinados para financiamento da safra está reduzindo a capacidade de investimentos do produtor rural, alerta Konrad.
– Isso pode comprometer o uso de tecnologias e, consequentemente, a produtividade – completa.
No Rio Grande do Sul, a carência de crédito é suprida também pelas cooperativas, que têm forte atuação entre os produtores e são o principal canal de distribuição de insumos. O receio, porém, é de que assumam riscos maiores do que as garantias recebidas.
– Nos anos 90, as cooperativas fizeram as vezes dos bancos e isso custou muito caro – lembra o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS), Paulo Pires.
Conforme o dirigente, as cooperativas não devem tomar o papel do crédito agrícola.
– Isso é obrigação do sistema financeiro – resume.