Não fosse a valorização do dólar frente ao real, os produtores brasileiros estariam sentindo os efeitos da queda de preços das commodities agrícolas, que atingiu com força a soja em 2015. Balizadora do mercado, a Bolsa de Chicago registrou recuo na oleaginosa, no milho e no trigo.
Para se ter uma ideia, em 23 de dezembro de 2015 contratos de soja para maio eram negociados a USS$ 8,8475 o bushel (medida equivalente a 27,2 quilos). Na mesma data, um ano antes, eram vendidos a US$ 10,5325. Uma queda de quase 16%.
Daqui para a frente, as previsões variam. Alguns especialistas avaliam que o grão pode cair ainda mais. O desenvolvimento das lavouras na América do Sul, em especial na Argentina e no Brasil, passa a ter um peso considerável nas equações de preço.
O clima, aliás, poderá puxar para baixo as estimativas para a safra 2015/2016.
O volume projetado pela Companhia Nacional de Abastecimento no último levantamento era de 102,45 milhões de toneladas para a soja.
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Os efeitos do El Niño poderão fazer esse prognóstico ir por água abaixo. No Centro-Oeste, Norte e Nordeste, a seca prejudica o andamento das lavouras, em alguns casos levando à ampliação do calendário de plantio. No Sul, é a chuva em excesso que preocupa. Uma eventual quebra poderia impulsionar as cotações internacionais.
Na contramão dos pessimistas, Farias Toigo, da Capital Corretora, aposta que câmbio e demanda continuarão ajudando os agricultores brasileiros no momento da colheita - que se intensifica no Estado a partir de abril:
- Não vejo perspectivas de baixa. Pelo contrário, é de estabilidade para alta.
O rompimento da barreira de US$ 9 o bushel pode iniciar um movimento de alta.
Como o patamar do câmbio também é incerto e a compra dos insumos para a atual safra brasileira ocorreu em um momento de alta do dólar, muitos agricultores optaram por antecipar as vendas, na tentativa de garantir boa rentabilidade. Tanto que no Rio Grande do Sul, Estado mais conservador que os demais nessa prática, o percentual negociado antecipadamente dobrou na comparação com o ciclo anterior, alcançando, até novembro, 29%, segundo a consultoria AgRural.