As coisas podem mudar ao longo dos meses, mas o cenário da largada de 2025 está tenso na economia. Nos Estados Unidos, ainda não se sabe se o presidente eleito, Donald Trump, cumprirá suas promessas inflacionárias de sobretaxar importados e reduzir impostos dos mais ricos. Isso influencia a projeção do juro norte-americano, que pressiona o dólar para cima. Aqui no Brasil, o cenário se agrava com o temor de que o presidente Lula não tenha o compromisso com as contas públicas que sua equipe econômica diz ter. Então, o dólar sobe mais aqui no Brasil, puxando inflação e alta da taxa Selic pelo Banco Central.
Não é a primeira crise, nem se será a última. O desafio recorrente das empresas é driblar os obstáculos e manter os negócios seja qual o cenário. A coluna perguntou como a alta de dólar, inflação e juro interfere nos negócios de três grandes empresas com atuação no Rio Grande do Sul, durante entrevista com os executivos no Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
CEO das Lojas Renner, Fábio Faccio.
"É um cenário que não ajuda ninguém. Alta de juro não ajuda investimento nem população, mas é o remédio que tem que se dar às vezes com o risco-país tão elevado, infelizmente. Há uma crise de confiança no país. Acho que os países deveriam ser administrados como uma empresa. Se ela não contém gastos, se a receita não é maior do que a despesa, ela quebra. Se conseguíssemos equacionar gastos públicos, cabendo dentro de um orçamento, como as empresas têm que fazer, o cenário seria diferente. E ainda temos um sistema tributário complexo e carga tributária elevada."
Presidente do Instituto Aegea, Edison Carlos.
"O saneamento é muito intensivo em capital, que investe pesado para recuperar em 35 anos, que é o prazo dos contratos. A Corsan vai investir R$ 15 bilhões nos próximos 10 anos. Esse dinheiro vem de algum lugar, com um custo que é fundamental para universalizar água e esgoto mais rapidamente. Então, o juro é uma preocupação. Além disso, todos os nossos insumos são commodities, do tubo de PVC ao cloro, que fica flutuando no mercado internacional com o dólar. Temos que nos adaptar e torcer para que a crise não se prolongue. Depois do marco legal de 2020, o saneamento começou a dar o salto e vai precisar de muito recurso financeiro."
Presidente da Randoncorp, Daniel Randon.
"Trabalhamos com bens de capitais - principalmente, caminhões e semirreboques -, então o impacto é grande. Dificulta o custo para investir. Temos também que olhar que a independência do Banco Central tem sido importante e que os investidores estão dando o recado. O Executivo e o Congresso têm que agir para serem um pouquinho mais austeros nas suas despesas. Não adianta só aumentar arrecadação se não controlar as despesas. Tem que mostrar seriedade no controle de gastos, para que o juro até suba agora, mas possa cair lá na frente e a economia retomar. Vamos continuar trabalhando e tentando ser um pouco mais competitivos, mesmo com juros altos, o que é sempre um desafio."
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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