Não é a primeira vez que o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, coloca "fogo no parquinho" aqui no Rio Grande do Sul. Ainda em junho, um mês após a enchente, ele disse que o estímulo fiscal recuperaria ainda neste ano a economia gaúcha e que o ano fecharia com resultado "neutro". Por aqui, se interpretou que o secretário estava minimizando o impacto econômico da tragédia enquanto estavam ainda mais intensas as negociações em busca de dinheiro da União. Empresariado e governo do Estado reagiram. O vice-governador Gabriel Souza rebateu as afirmações com ênfase: "Não entenderam o tamanho da tragédia", disse à coluna durante a reabertura da Ceasa naquele dia.
Agora, Ceron disse à agência Bloomberg que a equipe econômica cancelará parte dos R$ 40,5 bilhões em créditos extraordinários que foram excluídos da meta fiscal deste ano — recursos essencialmente destinados à reconstrução do Rio Grande do Sul, inclusive do sistema de proteção contra cheias. Afirmou que o corte será de R$ 10 bilhões, mas não disse quanto será de verba gaúcha e muito menos no que.
Não imaginou o baque que essa afirmação faria aqui? Ou será que realmente haverá corte ou foi só um "cafuné" no mercado financeiro? Para entender: dólar, juro e bolsa de valores têm reagido negativamente ao permanente receio de irresponsabilidade fiscal do governo federal e, para esta quinta-feira (25), estava marcada a divulgação do relatório trimestral de inflação do Ministério da Fazenda. Ele veio com previsão de alta do PIB e da inflação, o que pressiona ainda mais o dólar e o juro futuro, que puxam mais elevação da Selic pelo Banco Central. Qualquer "acalmada" nos investidores ajuda, inclusive o corte de créditos extraordinários, não importa que sejam para ajudar Estados que enfrentam tragédias de inundações ou queimadas.
Atualização: À noite, o ministro da Comunicação Social e até pouco tempo da Reconstrução, Paulo Pimenta, procurou a coluna para garantir que não haverá "cortes em investimentos nem programas em execução, muito menos em sistemas de proteção contra cheia", nem elimina nova rodada do programa de emprego que pagou parte do salário de funcionários de empresas atingidas. Citou como exemplo de cancelamento o leilão de importação de arroz, anulado após irregularidades, mas que não era dinheiro para o Rio Grande do Sul.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna
É assinante mas ainda não recebe a carta semanal exclusiva da Giane Guerra? Clique aqui e se inscreva.
Assista também ao programa Pílulas de Negócios, da coluna Acerto de Contas: Fábrica de aviões, "BIG da Sertório" à venda, nova cachaçaria e condomínio de R$ 187 milhões