- Dos R$ 85 bilhões prometidos pelo governo federal, cerca de R$ 14,9 bilhões já foram repassados ao Estado
- Anúncios do governo estadual somam R$ 1,9 bilhão e desembolso já realizado chega a 62,7%
- Grupo RBS lançou um painel para acompanhar uso de verbas públicas na reconstrução do RS
O ritmo da retomada econômica do Rio Grande do Sul após a enchente de maio é ponto de dissonância entre o governo federal e o governo do Estado. União e Piratini têm visões distintas. Enquanto auxiliares do presidente Lula consideram que ao final do ano o evento terá sido "quase neutro", o vice-governador Gabriel Souza alerta que o impacto é imensamente maior do que o da pandemia. A divergência está no potencial efeito das medidas já anunciadas pela União.
O tema veio a público nesta segunda-feira (17) após o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, prever, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que tanto em atividade econômica quanto em receitas o Rio Grande do Sul estará recuperado no final do ano.
Na contabilidade do governo federal, serão aplicados R$ 60 bilhões no Estado, em torno de 10% da economia local. Trata-se, segundo Ceron, de um "impulso fiscal violentíssimo" equiparado à injeção de R$ 1 trilhão na economia brasileira.
Em entrevista à coluna, o ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, ratificou a previsão. Para ele, a injeção de recursos terá efeito imediato e os estímulos serão suficientes para que o segundo semestre compense prejuízos causados pela paralisação de atividades.
— Estamos falando de um conjunto de ações. Temos linha de crédito com carência e juro zero, R$ 2 bilhões de antecipação do FGTS, R$ 2 bilhões de antecipação da restituição do Imposto de Renda (IR), quase R$ 2 bilhões do auxílio reconstrução. Este dinheiro vai circular na economia do Estado, é um incremento muito importante — argumentou.
O vice-governador Gabriel Souza reconhece medidas já adotadas, mas entende que elas são insuficientes. Além disso, considera que a entrevista de Ceron deixou claro que muitos integrantes do governo federal não entenderam o tamanho da tragédia que atingiu o Estado. O desafio, segundo Souza, será muito maior do que o enfrentado na pandemia.
— A diferença para a pandemia é que agora as nossas pontes, rodovias, aeroportos foram destruídos, e os ativos privados também. Hoje temos uma grande parte destruída, por isso erra o secretário do Tesouro Nacional ao dizer que nós não vamos ter perda econômica neste ano. Mas como não vamos ter? Como o impacto será neutro no PIB se tivemos um maio totalmente adverso e sem produzir, um junho completamente dificultoso — rebateu, durante evento que celebrou a retomada da Ceasa de Porto Alegre.
Assim como o setor empresarial, o vice-governador defendeu, por exemplo, a necessidade de o governo federal criar um programa mais robusto de manutenção de empregos. Até agora, foi anunciada uma medida em que a União apoia as empresas a pagarem auxílio financeiro de duas parcelas do salário mínimo (R$1.412) para os trabalhadores formais das cidades atingidas.
Para Souza, além de chegar ao final do ano com prejuízo muito severo, o Estado vai demorar mais tempo para se recuperar se a União não tomar medidas na proporção que a trágedia exige.
— No governo federal há agentes políticos com total noção do que vivemos aqui, mas todos os agentes políticos, todos os brasileiros precisam ter noção do que está acontecendo no Rio Grande do Sul— enfatizou o vice-governador.