Como uma das gigantes do agronegócio inova? Como a SLC Agrícola investe em sustentabilidade? Com ações negociadas na bolsa de valores, como ela lida com a queda nos preços dos grãos? São alguns dos temas tratados na entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com Aurélio Pavinato, presidente da empresa que tem sede no Rio Grande do Sul. Ele esteve no estúdio do Grupo RBS no South Summit, evento de inovação realizado nesta semana em Porto Alegre. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Como foi o seu início, ainda trabalhando na lavoura?
Nasci na localidade de Barreiro, interior de Vista Gaúcha, uma cidade 3,5 mil habitantes. Era filho de pequeno produtor com 25 hectares, com sete irmãos e resolvi estudar. Consegui fazer o Ensino Fundamental em um colégio estadual e passei no Colégio Agrícola de Frederico Westphalen, federal na época, onde tinha mais tempo para estudar. Quando estava em casa, tinha que ir na aula pela manhã e, à tarde, capinar na lavoura. O caminho foi se abrindo. Na Universidade Federal de Santa Maria, fiz Agronomia. Fiz mestrado na UFRGS em Ciência do Solo, com tese sobre manejo sustentável. Vim para a SLC Agrícola 30 anos atrás para trazer tecnologia para a empresa e agora estou há 11 anos como o CEO da companhia.
Qual a transformação desses 30 anos?
A humanidade enfrentou alguns desafios importantes. Depois da Segunda Guerra Mundial, o desafio era ter alimentos, inclusive com a teoria de que a população mundial seria limitada em quantidade por escassez de alimentos. Depois, ao longo da década de 80, era a degradação do solo. Quando criança lá no Interior, a erosão era uma coisa absurda com o manejo, vinha a enxurrada e provocava erosão muito forte. Hoje, a discussão é produção sustentável pensando no conjunto dos recursos naturais.
Como a SLC inova?
Quanto mais inovarmos na agricultura digital, com aplicação localizada de defensivos agrícolas e seletiva de herbicidas, vamos usar os recursos naturais de forma mais eficiente e pensando nas gerações futuras. Nós temos o projeto interno Ideias e Resultados, que estimula o time a enviar sugestões de melhoria nos processos, selecionamos as melhores ideias e implantamos nas 22 fazendas. E temos o projeto Agro Exponencial, que conecta com startups do mercado, que trazemos para discutir soluções para os problemas que elencamos. Então, desenvolvemos testes de conceito e depois implementamos na nossa operação.
Um exemplo...
De ganho de eficiência: a rotação do motor das máquinas. É um sistema online que controla os equipamentos em tempo real, mantendo a rotação equilibrada. Você economiza diesel ao acelerar menos. Outro é a aplicação de defensivos agrícolas. Faz o mapeamento da lavoura, envia para o pulverizador e ele aplica somente onde tem a praga. No ano passado, reduzimos em 11% os defensivos agrícolas. Mais um projeto nesta linha é a aplicação de defensivos biológicos que, no ano passado, substituíram 14% do defensivo químico que usávamos. Estamos investindo em biofábricas nas fazendas.
Como lidam com as mudanças climáticas?
Aquecimento global é um fato. Chuva mais intensa, seca mais intensa, vento mais intenso são fatos. Então, trabalhamos a nossa meta de ser carbono neutro em 2030. Quando eu uso diesel, tenho emissão, uso fertilizante nitrogenado. Ao mesmo tempo, temos plantio direto, cobertura de solo, enriquecimento de vegetação nativa na reservas legais, que estamos enriquecendo com sequestro de carbono. Fazemos reflorestamento onde é possível. Nossa meta é carbono zero nos escopos 1 e 2, que é dentro da fazenda e no consumo de energia. Tem ainda um escopo 3, que é fora da fazenda, com fornecedores e clientes, a cadeia produtiva, mas vemos que o carbono neutro é possível.
Com preços de terra em alta e queda nos grãos, como fechar a conta?
Preço de terra é consequência da rentabilidade que ela gera. O agronegócio muito rentável provocou a aceleração. Agora, os preços da soja e do milho caíram. A consequência será estabilização nos preços das terras, até mesmo algum ajuste para baixo.
E investimentos em outros países?
Nós estudamos bastante neste último ano. A China já atingiu um nível de importação alto. A tendência é que a população comece a cair. Mesmo crescendo consumo, vai reduzir importações no médio prazo. Por isso, o Brasil precisa desenvolver novos mercados. Índia tem PIB e população crescendo. Provavelmente, será um grande demandante.
Ouça a entrevista completa:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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