Pela primeira vez, uma mulher será premiada pela Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS). Realizado há 48 anos, o Troféu Homem do Aço muda agora para Destaque do Aço para homenagear Jaqueline Santarém, CEO da Diferro Aços Especiais, distribuidora com sede em Caxias do Sul e unidades em Cachoeirinha (RS) e Araquari (SC). Confira abaixo trechos da entrevista da empresária ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, e assista à íntegra no final da coluna.
O que o prêmio representa?
É uma enorme honra. Me criei trabalhando com siderúrgicas. E dá uma visibilidade de que as mulheres também podem ser grandes executivas no mundo do aço.
Conte um pouco da sua trajetória?
Meu pai sempre trabalhou com aço. Eu ouvia as conversas desde pequena. Me formei em Artes e Direito, que era muito lento. Minha mãe sempre trabalhou na empresa, meu pai sempre me deu desafios, me pareceu natural começar como estagiária e trainee nas empresas da família. Fui gostando e assumindo setores, quando vi, entendia praticamente tudo. A empresa cresceu e eu junto. Não entrei como executiva. Estudei para isso e, com a inteligência artificial, terei que me preparar para isso também.
Como foi no auge da pandemia, quando faltou aço?
Duplamente desafiador. No começo da pandemia, meus pais sofreram um acidente de automóvel e tiveram que ficar fora da empresa. Eu nunca tinha administrado, fiquei sozinha com sócios. Eu conversava com meus irmãos, mas assumi sozinha o setor do aço. Nunca tive uma situação tão desafiadora. Não sabíamos o que fazer, como tratar, como ter segurança. Paramos por 15 dias, usamos máscara, acompanhamos funcionários nos hospitais. Eu tinha reunião diária com o RH (recursos humanos). Mas o resultado das empresas no nosso ramo foi bom. Com as fronteiras fechadas, não podia vir material da China, faltou mercadoria, mas conseguimos atender muito bem os nossos clientes tradicionais. Foi um esforço violento de suprimentos e logística. Conseguimos expandir a empresa, estamos com uma unidade nova de 11 mil metros quadrados em Araquari (SC).
Preço e fornecimento foram normalizados?
Nunca se sabe o cenário de amanhã. Tu faz planejamento estratégico para cinco anos sabendo que tu vai trocar. Estamos pagando a conta da covid. Os governos tiveram que colocar muito dinheiro na economia para manter a saúde das pessoas e isso gerou uma inflação. Agora, estamos em um momento inverso, com uma deflação violenta de preços nas mercadorias, mas o combustível não baixa preço. Empresas inteligentes, que se capitalizaram, vão trabalhar bem, que é o nosso caso. Saí de uma reunião agora que tratou que os aços chineses estão inundando o mercado com preço baixo. Tentar manter emprego nas usinas no Brasil tem sido desafiador. A sucata, outro negócio forte da nossa família, não tem sido toda absorvida pelo mercado. O nosso novo normal é se adaptar a fases turbulentas.
Quais os próximos planos da Diferro?
Estamos pensando em colocar novas linhas de produtos siderúrgicos em Santa Catarina. Estamos indo com calma, porque o mercado sugere cautela. Estamos sentindo é que o estoque que compramos hoje, no mês que vem, corre o risco de estar mais barato. Precisamos sempre trabalhar com a última linha no verde ou no azul. Se o dólar continuar subindo, muda o cenário.
Assista ao vídeo da entrevista:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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