Com dificuldade de retomar a força desde a pandemia, a indústria nacional tem oportunidades no radar. Entre elas, está a redução do juro, a reforma tributária e a política em elaboração pelo governo federal. Confira abaixo trechos da entrevista do programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, com a diretora de Desenvolvimento Industrial e Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Lytha Spíndola. A entidade desenvolveu um plano de retomada da indústria, que foi entregue ao governo federal. Entre as medidas defendidas, está a chamada "depreciação acelerada".
A indústria tem reduzido produção, com o Rio Grande do Sul tendo um dos piores resultados do países. Como a entidade vê isso?
A indústria enfrenta um declínio no mundo, mas aqui é mais desproporcional. Nos preocupa, porque é o motor da economia, que gera emprego qualificado, traz investimentos, responde por inovação e desenvolvimento tecnológico, agrega valor e mais contribui para arrecadação. Temos restrição fiscal de curto prazo e só a indústria pode alterar o quadro. Tem o poder de alavancagem, que chamamos de elasticidade. A cada R$ 1 investido na indústria, gera pelo menos R$ 2,50 de crescimento na economia como um todo.
A indústria será beneficiada pela reforma tributária?
Com certeza. A indústria é a mais tributada no país. E pior, naquilo que tem maior valor: componente tecnológico. Ou seja, produtos que seriam mais competitivos no mercado interno e internacional são os mais tributados indevidamente no fluxo de produção, gerando créditos acumulados. Isso pune investimento e exportações, retira competitividade de nossas empresas. Precisamos de uma reforma tributária para tornar o sistema mais limpo, justo, e evitar incidências indevidas que desencorajam o aumento da produção.
Qual a proposta?
Uma medida que consta no plano da CNI é a implantação da depreciação acelerada. Isso quer dizer reduzir impostos para comprar equipamentos, máquinas, instrumentos, aparelhos para incorporar ao ativo permanente das empresas. Ou seja, investimento produtivo para aperfeiçoamento das empresas, avanço tecnológico e aumento da escala de produção.
Até porque equipamentos também são produzidos pela indústria.
Exatamente. O setor de bens de capital é intermediário e muito relevante. É gerador de riqueza. Sistemas tributários do mundo todo evitam tributar bem de capital, pois alavanca desenvolvimento, crescimento econômico e produção. A ideia de depreciação acelerada é exatamente permitir que se deduza o bem de capital na contabilidade das empresas em um prazo mais rápido. Não há renúncia fiscal, não há subsídio, não há incentivo, não há perda de arrecadação, mas há uma mudança no fluxo dessa dedução. Se deduz mais neste ano e deixa de deduzir parcelas nos anos subsequentes.
Como está a discussão da reindustrialização, chamada de neoindustrialização, para evitar gargalos como os graves registrados na pandemia?
Estamos trabalhando há algum tempo. Estamos falando de uma insegurança em cadeia de fornecimento e suprimento de bens estratégicos, no que o país não pode ficar vulnerável. As principais economias do mundo lançaram estratégias para desenvolvimento industrial das cadeias críticas. Empresas tiveram que dar férias coletivas porque não tinham baterias, chips e outros insumos. O nosso plano é que o Brasil reduza a dependência de insumos estratégicos.
Fabricar chips aqui, como Estados Unidos estão fazendo?
Exatamente. Coreia, China, Alemanha, Reino Unido também...
E como fica a globalização?
Estamos com processos diferentes. Algumas empresas estão saindo da China. Países tentam atrair suas empresas estratégicas de volta. Outras vão para países "amigos", que têm disponibilidade de energias renováveis. Enfim, o mundo tem se movimentado muito rapidamente. O Brasil tem oportunidades ótimas de atrair investimentos importantes. Precisamos ser competitivos.
O Rio Grande do Sul busca uma nova vocação econômica com energia renovável, incluindo amônia e hidrogênio verdes. Quais as oportunidades?
Talvez seja a vertente mais cheia de oportunidades para o Brasil: descarbonização da economia voltada a transição energética. Sul e Nordeste têm presença competitiva. Temos uma das matrizes elétricas e energéticas mais limpas do mundo, mas podemos avançar.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Vitor Netto (vitor.netto@rdaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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