Além de desdizer ministros e escancarar descompromisso com a meta fiscal, o presidente Lula errou o “timing” da declaração de que a meta fiscal não tem que ser zero. Isso porque semana que vem tem reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) para decidir sobre a taxa Selic, com alta de petróleo e impacto do El Niño no preço de alimentos. Não tem nada que a autoridade monetária esteja observando mais agora do que a responsabilidade fiscal do governo, enquanto a economia anseia por juro mais baixo.
O arcabouço fiscal foi aprovado no Congresso com bastante articulação e com um desenho que o Banco Central achou plausível. Proposto pelo próprio governo para substituir o teto de gastos, ele prevê zerar o déficit em 2024. Independente de conseguir ou não, porque é desafiador, a forma como Lula falou nesta sexta-feira (27) mostra desdém com o compromisso, dizendo que um déficit pequeno “não é nada” e que a meta é ganância do mercado.
Irresponsabilidade fiscal desequilibra contas públicas, o que provoca inflação, retira confiança no país, impede redução de juro, mantém trava do crédito e a economia emperrada. Críticos de Lula já diziam que ele não resistiria a uma “gastança”. Tem que investir? Tem, claro. Mas tem que ser equilibrado, com a capacidade que se tem, ajustando despesas e aumentando receita sem estrangular a economia com imposto.
A equipe econômica e política terá que amenizar esse incêndio. Ou terá que lidar com dólar, inflação e juro altos, além do “eu avisei” de quem não acreditava no compromisso fiscal deste governo.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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